A economia brasileira entrou no modo “cautela máxima”. O crescimento de apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre acendeu um sinal amarelo no mercado e escancarou um país que segue andando, mas claramente sem tração. O resultado, divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira, ficou abaixo das expectativas e reforça a sensação de que o remédio amargo dos juros altos já começou a cobrar sua conta.
Na comparação com o mesmo período de 2024, o PIB ainda avançou 1,8%, número ligeiramente acima do que o mercado projetava. Mas o dado trimestral fala mais alto: a economia praticamente estacionou. Depois de crescer 1,5% no primeiro trimestre e 0,3% no segundo, o ritmo perdeu força de forma visível. Para o IBGE, não há maquiagem possível. “Esse 0,1% é praticamente uma estabilidade. Não dá para chamar de crescimento”, resumiu a analista Cláudia Dionísio.
O pano de fundo é conhecido, mas agora ficou impossível ignorar: a política monetária contracionista, com a Selic fixada em 15%, está esfriando investimentos, achatando o consumo e limitando o crédito. O freio é intencional para derrubar a inflação, mas o efeito colateral apareceu com clareza nos números.
Mesmo diante desse cenário, o Banco Central deve manter os juros na próxima reunião. O mercado, porém, já aposta em um corte no início de 2026. Após a divulgação do PIB, a probabilidade implícita de redução da Selic em janeiro saltou para 84%. Para analistas internacionais, o ciclo de afrouxamento está mais perto do que longe.
Serviços tropeçam e consumo perde fôlego
O setor de serviços, que representa cerca de 70% da economia, foi o grande responsável pela desaceleração. Cresceu apenas 0,1% no trimestre, depois de ter avançado 1,0% e 0,3% nos períodos anteriores. Ou seja, o motor principal da economia quase desligou.
A agropecuária até reagiu e avançou 0,4%, revertendo a queda do segundo trimestre, mas ficou muito distante do salto de 16,4% registrado no início do ano. A indústria teve desempenho mais animador, crescendo 0,8%, mostrando alguma recuperação da atividade produtiva.
Do lado da demanda, o sinal de alerta ficou ainda mais claro. O consumo das famílias avançou só 0,1%, depois de dois trimestres seguidos de crescimento de 0,6%. Isso ocorreu mesmo com mercado de trabalho aquecido e aumento de renda, o que reforça o impacto dos juros altos no bolso do consumidor.
Nem mesmo o pagamento de R$ 60,5 bilhões em precatórios, feito em julho, conseguiu impulsionar o consumo. Segundo o IBGE, grande parte desses recursos foi usada para quitar dívidas. O comportamento revela uma população menos disposta a gastar e mais preocupada em se proteger.
O consumo do governo, por outro lado, subiu 1,3% no período, mantendo o mesmo ritmo do início do ano. Já os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, cresceram 0,9%, recuperação tímida após queda no trimestre anterior.
Exportações salvam o trimestre em meio ao tarifaço
No setor externo, as exportações deram um raro impulso positivo, com alta de 3,3%. As importações subiram apenas 0,3%, o que ajudou a sustentar o desempenho do trimestre. O cenário, contudo, foi marcado pelas incertezas provocadas pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos a diversos produtos brasileiros.
Apesar do impacto inicial, o IBGE avalia que o efeito foi mais brando do que o esperado. Exportadores conseguiram redirecionar parte da produção a outros mercados. Sectores como madeira e calçados sentiram mais fortemente os reflexos, mas sem peso suficiente para alterar a tendência geral.
Em novembro, o governo norte-americano retirou a tarifa de 40% sobre 238 produtos, incluindo carne bovina e café, mas outros itens continuam sujeitos a taxas de até 50%. As negociações seguem abertas, enquanto o setor produtivo segue convivendo com a incerteza.
O retrato real da economia
O número de 0,1% pode parecer positivo à primeira vista, mas na prática revela uma economia que perdeu fôlego. O consumo dá sinais claros de cansaço, o setor de serviços enfraqueceu e os juros seguem comprimindo decisões de investimento. O crescimento existe, mas é frágil, desigual e sustentado por poucos pilares.
O mercado agora olha para o Banco Central com expectativa de mudança no discurso. O dilema está posto: manter os juros elevados para garantir a inflação sob controle ou aliviar o freio para evitar um mergulho mais profundo da atividade econômica. Por enquanto, o PIB mostrou que o Brasil segue em movimento, mas com o pé no freio e o motor forçando no limite.
Com informações: Reuters










































