Um estudo divulgado nesta quinta-feira, 18, na revista Nature Reviews Earth & Environment, detalha os efeitos do El Niño no Oceano Atlântico. A pesquisa demonstra que o fenômeno climático altera padrões de chuva e ventos, influenciando diretamente a pesca na América do Sul e na África.
Segundo a professora Regina Rodrigues, da Universidade Federal de Santa Catarina, o fenômeno reduz as chuvas na Amazônia. Essa mudança diminui o transporte de nutrientes do rio Amazonas para a costa Norte e Nordeste. A falta desse aporte essencial afeta a base da cadeia alimentar marinha e a abundância de espécies.
Impactos regionais na pesca brasileira
No Norte do país, a menor turbidez da água pode favorecer a captura do camarão marrom devido à maior radiação solar. Já no Sul, o El Niño está associado ao aumento das chuvas, como observado no Rio Grande do Sul. O maior volume de água doce e nutrientes nessas áreas tende a beneficiar a pesca local.
O pesquisador Ronaldo Angelini, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, destaca que as respostas da fauna não são lineares. Na região central do Atlântico Sul, por exemplo, nota-se um aumento na captura da albacora. A intensidade do fenômeno varia conforme a década e a espécie analisada.
Necessidade de monitoramento coordenado
O artigo aponta lacunas no conhecimento científico, como a falta de séries históricas de dados pesqueiros. Os especialistas defendem a criação de modelos quantitativos para diferenciar os sinais do El Niño de outras variações climáticas. A proposta inclui o uso de protocolos comuns e dados integrados entre os países.
O projeto recebeu financiamento da União Europeia e contou com a colaboração de instituições da Europa, África e Brasil. Para os autores, a complexidade do fenômeno exige estratégias de manejo locais. Cada comunidade pesqueira deve se adaptar à realidade dos estoques de peixes e crustáceos da sua região.








































