Os Estados Unidos não vão mais doar produtos contraceptivos a países em desenvolvimento e planejam destruir US$ 9,7 milhões em contraceptivos femininos que seriam destinados a mulheres e jovens globalmente. A denúncia de “ato irresponsável” foi feita pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Após desmantelar a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), o governo de Donald Trump planeja incinerar milhões de produtos contraceptivos adquiridos em contratos da agência, que foi oficialmente fechada no início deste mês. Milhares de implantes, pílulas orais e dispositivos intrauterinos (DIUs) estão armazenados em Geel, na Bélgica, aguardando envio para a França, onde serão queimados, segundo revelou o jornal The Guardian.
Decisão condenada por “desperdício”
A Médicos Sem Fronteiras condena veementemente a decisão da administração Trump, que, segundo a organização, “coloca em risco a saúde e a vida de mulheres e desperdiça o dinheiro dos contribuintes americanos” que financiou programas de planejamento familiar e saúde reprodutiva da Usaid.
Avril Benoît, CEO da MSF-EUA, declarou em comunicado: “O governo dos EUA criou este problema. Destruir artigos médicos valiosos que já foram pagos pelos contribuintes norte-americanos não contribui em nada para combater o desperdício ou melhorar a eficiência. Esta administração está disposta a queimar contraceptivos e deixar os alimentos apodrecerem, colocando em risco a saúde e a vida das pessoas para promover uma agenda política”.
Ela acrescentou: “A decisão do governo dos EUA de queimar contraceptivos no valor de milhões de dólares é um ato intencionalmente irresponsável e prejudicial contra as mulheres e meninas em todo o mundo”. Segundo a porta-voz da MSF, não há justificativa para destruir esses contraceptivos, que estavam prontos para serem enviados a regiões afetadas por conflitos e que agora enfrentam escassez de produtos devido ao fim do financiamento estadunidense.
Agenda antiaborto por trás da medida
A Médicos Sem Fronteiras também critica o fato de os Estados Unidos pagarem mais de US$ 167 mil para destruir os contraceptivos, enquanto recusaram propostas de organizações como a MSI Reproductive Choices e a UNFPA (agência das Nações Unidas para saúde sexual e reprodutiva) que se ofereceram para arcar com os custos de envio e distribuição dos insumos.
De acordo com a Reuters, desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, os EUA têm agido sob uma política antiaborto, conhecida como “Mexican City Policy”. Essa política restringe o financiamento a organizações estrangeiras que forneçam serviços, defesa ou aconselhamento relacionados ao aborto.