O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Maria dos Anjos (Cedeca/RO) alertou, nesta semana, para os altos índices de mortalidade infantil em Rondônia, revelados pelos dados oficiais de 2024. Foram 362 óbitos de crianças menores de 5 anos, com Porto Velho concentrando quase 26% dos casos (93 mortes), segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/AGEVISA-RO).
Para a equipe do Cedeca, os números evidenciam desigualdades históricas no acesso à saúde pública, falhas na prevenção e mortes potencialmente evitáveis, especialmente em áreas rurais e vulneráveis.
“Mortes que poderiam ter sido evitadas”, afirma médica do Cedeca
A médica Dra. Thais Campos, integrante do Cedeca Maria dos Anjos, destacou que a concentração de óbitos em poucos municípios e hospitais reflete deficiências estruturais e de planejamento regional.
“Quando observamos que 120 crianças morreram apenas no Hospital de Base de Porto Velho, fica claro que o sistema está sobrecarregado. São mortes que poderiam ter sido evitadas com pré-natal de qualidade, acompanhamento pediátrico e atenção básica eficaz”, afirmou.
Ela acrescentou que cada dado representa uma vida interrompida e um alerta sobre as condições em que crianças nascem e vivem em Rondônia.
Concentração e desigualdade territorial
Os municípios com maior número de óbitos em 2024 foram: Porto Velho (93), Ji-Paraná (27), Ariquemes (25), Vilhena (23) e Machadinho D’Oeste (15), concentrando quase metade das mortes do estado.
Dez municípios registraram apenas um óbito, evidenciando grande disparidade territorial, que não se explica apenas pelo tamanho populacional, mas também pela distribuição desigual de recursos e acesso precário à saúde.
Centralização hospitalar e barreiras de acesso
O Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, em Porto Velho, concentrou um terço das mortes infantis do estado (120 casos). Outros hospitais com registros expressivos foram o Hospital Cosme e Damião (30) e o Hospital Cândido Rondon, em Ji-Paraná (21).
Além disso, 27 crianças morreram fora de hospitais — em casa, vias públicas ou locais não especificados — destacando a fragilidade da rede de urgência e emergência infantil.
“Essas mortes fora do ambiente hospitalar mostram que muitas famílias ainda não conseguem chegar a tempo de receber atendimento. É urgente fortalecer a atenção primária e garantir transporte sanitário infantil adequado no interior do estado”, afirmou Thais Campos.
Saúde e direitos humanos: prioridade urgente
O Cedeca ressalta que a mortalidade infantil é um indicador de desigualdade social e violação de direitos humanos. A instituição recomenda políticas intersetoriais, integrando educação, saúde e assistência social, com ações como:
- Fortalecer pré-natal e acompanhamento infantil contínuo;
- Ampliar cobertura da atenção básica e equipes da ESF;
- Garantir leitos pediátricos regionais e UTIs neonatais fora da capital;
- Qualificar o monitoramento epidemiológico e a transparência dos dados.
“Quando uma criança morre por falta de atendimento, não estamos diante de uma falha médica, mas de um fracasso coletivo. A infância precisa ser o centro das políticas públicas — não a parte esquecida delas”, concluiu Thais Campos.









































