O Brasil enfrenta um grave cenário de abandono de animais, com cerca de 30 milhões de pets — entre cães, gatos e outras espécies domésticas — vivendo nas ruas. A estimativa, estável desde o início da década, ganha destaque com a campanha Dezembro Verde, que alerta para a responsabilidade necessária na guarda desses companheiros.
O período de festas é considerado o mais crítico para o abandono de animais, impulsionado por viagens, mudanças de rotina e estresse causado por fatores externos, como fogos de artifício. A presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do CRMV-SP, Daniela Ramos, destaca que o vínculo humano-animal evoluiu a ponto de termos de abandonar conceitos como “posse” para adotar o entendimento de convivência e cuidado emocional.
Segundo o Conselho de Medicina Veterinária, o planejamento é essencial antes da adoção. Os animais podem viver mais de uma década e demandam cuidados contínuos, inclusive em períodos excepcionais. A ausência dos tutores, por exemplo, pode afetar o bem-estar emocional dos pets, e por isso a recomendação é acostumá-los gradualmente a novas rotinas e locais de acolhimento.
Refletir antes de adotar também evita situações extremas. Perguntas como “o que faremos com o animal em uma viagem ou mudança?” precisam fazer parte do processo. “Nenhum animal chega pronto. É preciso ensiná-lo e guiá-lo”, reforça Daniela, lembrando que todos os membros da família têm responsabilidade no acolhimento.
Além das questões morais, o abandono de animais é crime no Brasil. A Lei 9.605/1998 prevê até um ano de prisão, com agravantes caso haja maus-tratos. Denúncias podem ser registradas pela Delegacia Eletrônica de Proteção Animal ou pelo Disque Denúncia Animal 0800-600-6428. Em São Paulo, pets em risco são recolhidos pela Divisão de Vigilância de Zoonoses, priorizando situações que oferecem perigo à saúde pública.
A mobilização ganha força também em outros estados. Em Santa Catarina, a campanha “Não abandone o amor” ocupa ruas e meios digitais para conter o aumento de ocorrências durante as férias. A diretora estadual de Bem-Estar Animal, Fabrícia Rosa Costa, resume o problema: famílias adotam por impulso e abandonam diante do primeiro obstáculo. “Pet não é brinquedo. São seres sencientes, que sentem fome, medo e desamparo”, destaca.
Com o avanço das políticas de conscientização, a expectativa é que o abandono de animais deixe de ser tratado como consequência natural da rotina humana e passe a ser encarado como uma violação ética e legal — responsabilidade que começa na escolha consciente do tutor.











































