Existe um instante silencioso em que a vida nos cobra atenção. É aquele momento íntimo em que percebemos que estamos nos acostumando ao que nos fere. O ser humano tem esse vício antigo de se adaptar ao desconforto. É como quem aceita um sapato apertado porque “dá para aguentar”. Dá para aguentar, sim, mas até não dar mais.
A frase atribuída a Fernando Pessoa — “Não se acostume com o que não o faz feliz.” — é mais do que um conselho leve. É um aviso sério, quase um ultimato existencial. A infelicidade, quando permitida, instala-se como um inquilino abusado. Ela entra sem pedir, se espalha e ainda exige silêncio. Muitas vezes, chamamos isso de rotina.
A necessidade de reinvenção e alinhamento
O espírito não nasceu para viver em cárcere emocional. A vida pede movimento, reinvenção e honestidade consigo mesma. Pedir pouco de si é uma forma discreta de autossabotagem. Aceitar pouco dos outros é um pacto silencioso com a resignação. Resignação demais não é virtude, é desistência fantasiada de maturidade.
Felicidade não é euforia permanente, é alinhamento. É quando o que você vive não contradiz o que você sente. É quando sua alma não precisa cochichar pedidos de socorro. Isso acontece enquanto você insiste em dizer que “está tudo bem”.
E, na verdade, não está tudo bem.
O caminho para a presença
Admitir que a situação não está bem é apenas o primeiro passo. O segundo é se levantar. O terceiro é partir para onde quer que seja. O importante é que você não permaneça no lugar onde a sua luz se apaga.
No fim das contas, acostumar-se ao que não nos faz felizes é a maneira mais lenta e eficiente de desaparecer de si mesma. E você nasceu para presença, não para ausência.










































