O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos no Brasil é um processo que enfrenta desafios significativos. Visando superar essas dificuldades, o pesquisador e psiquiatra Dr. Lucas Fortaleza (CRM 15630/CE e 245544/SP) está concluindo um estudo focado no desenvolvimento de escalas de heterorrelato. A iniciativa busca criar ferramentas mais precisas, aprimorando o diagnóstico e superando as barreiras que dificultam a identificação do autismo após a infância.
O desafio do diagnóstico tardio do autismo
O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades de comunicação e interação social, além de padrões restritos ou repetitivos de comportamentos. Embora presente desde o início do desenvolvimento, muitas pessoas são diagnosticadas apenas na vida adulta.
Isso ocorre devido a fatores como o acesso limitado aos serviços de saúde e o pouco conhecimento sobre como o autismo se manifesta de forma diferente em adultos, se comparado a crianças. O diagnóstico é clínico e se baseia nos critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR).
Camuflagem social e a subidentificação em mulheres
Mulheres autistas frequentemente enfrentam maiores dificuldades no diagnóstico, em parte porque as peculiaridades do gênero feminino são desconsideradas nas avaliações. Além disso, elas apresentam maior capacidade de camuflagem social.
A camuflagem é uma estratégia, muitas vezes inconsciente, usada para mascarar traços autistas e se adequar a expectativas sociais. Essa estratégia leva a interpretações equivocadas de seus comportamentos, que podem ser confundidos com outras condições. A camuflagem contribui diretamente para a subidentificação do autismo em mulheres.
A precisão das escalas de heterorrelato
Para um diagnóstico mais preciso, as escalas de heterorrelato são preenchidas por pessoas próximas ao indivíduo, como familiares ou amigos. Essa abordagem complementa o autorrelato e oferece uma perspectiva externa. Ela minimiza distorções na percepção de características clínicas atuais, especialmente por causa da camuflagem social.
Além disso, o heterorrelato permite avaliar características do autismo na infância, informações que o próprio adulto pode não recordar. As escalas de triagem internacionais usadas atualmente (como AQ-10 e RAADS-R) não são totalmente eficazes na detecção da camuflagem social. Essa incapacidade de identificar estratégias de mascaramento aumenta o risco de sofrimento psicológico e de desenvolvimento de condições como ansiedade e depressão em pessoas não diagnosticadas.
Novas ferramentas adaptadas à realidade brasileira
O Brasil possui uma lacuna significativa de pesquisas sobre a prevalência do autismo em adultos e de escalas validadas em português para sua triagem.
O estudo liderado pelo Dr. Lucas Fortaleza desenvolveu escalas de heterorrelato para o rastreio de autismo em adultos no Brasil. O projeto utilizou metodologia rigorosa e contou com a participação de pessoas autistas na equipe. As escalas serão usadas para traços autistas atuais na vida adulta e para a avaliação retrospectiva de características presentes na infância. A pesquisa visa obter uma ferramenta robusta e adaptada à realidade brasileira, contribuindo significativamente para o diagnóstico tardio do TEA.











































