Quem passa pela BR-364, km 9,5, nem imagina que do alambrado para dentro existe vida pulsando: caminhos que se cruzam com apenas um foco: conquistar o tão sonhado diploma de nível superior. Ainda que diante da correria, os momentos para desintoxicar a mente torna a rotina mais suavizada. “Eu simplesmente mergulho nesse cenário. De estar aqui presente. Gosto de ficar em silêncio; é quando mais me encontro: o silêncio, para mim, é voz alta. Não sei se me entende.”, reflexe o estudante de Letras (Espanhol), Juciel Karitiana.
Na pressa de quem corta a rodovia indo ou voltando de algum lugar entre Rondônia e o Acre, pode nem se dar conta, mas a Universidade Federal de Rondônia está localizada em uma reserva onde a floresta Amazônica repousa intacta. Para a estudante de Letras, Alice, a viagem no ônibus Campus-UNIR é a oportunidade para guardar momentos memoráveis de uma universidade que, logo mais, ficará só nas lembranças. “Passo por aqui de segunda a sexta-feira, venho e volto de ônibus para a cidade. Gosto desses momentos; sento, coloco meu fone de ouvido, olho para o lado e aproveito para curtir a viagem e a paisagem. Quero sair daqui com recordações boas.”.
A poucos metros do portão, um simples caminhar leva o estudante a momentos de pura interação homem-meio ambiente: alma e espírito se reconectam e agradecem após a maratona exaustiva de estudos. “Não canso de observar; às vezes, com um pouco de tempo, paro e fico me presenteando com tanta energia boa trazida pela natureza”, explica o universitário Afonso Emerson.
Com um olhar mais atento e o campo de pesquisa do estudante estará formado. Na alameda que corta o complexo de ponta a ponta, a paisagem existente entre ela contribui para frear os passos até mesmo dos mais insensatos; “é impossível não se deixar levar pelos caprichos da natureza deste local”, pontua o estudante.
Uma árvore no meio do caminho alerta para a paciência. Nativa da Indonésia, a “Falcataria”, desponta soberana entre as demais espécies da flora no bosque da Unir. Imponente, é difícil não notá-la. “Todos os dias que passo por aqui para ir a algum setor ou até mesmo ir embora, olho para cima para enxergar a sua beleza. É um espelho da paciência que devemos ter, apesar de que essa aí cresce, de acordo com as pesquisas que eu fiz, em torno de 3 metros por ano. Achei impressionante. Segredos dessa obra prima”, explica Afonso.
Na Unir, o equilíbrio natural desfila diante dos olhos, muitas vezes, frugais; macacos da espécie “soim”, cutias, pacas, cobras, são alguns dos animais que se podem ver com mais frequência. De longe, nos observam, cada qual em seu devido lugar, afinal, é expressamente proibido interferir no habitat deles.
Na alameda dos bosques, um dos acessos principais que liga todo o complexo da Universidade Federal de Rondônia –, localizado na BR-364, km 9,5, eixo rural de Porto Velho, observar as árvores, as folhas vindo ao chão embaladas por rajadas de ventos alísios, é quase um programa de quem é frugal, evento completo se o cenário for apreciado nos velhos banquinhos, ao lado do Restaurante Universitário (RU).
É por falar no RU, na Unir, natureza e alvenaria se integram por um motivo nobre: o saber superior. Estudo e meio ambiente de mãos dadas, embalados por belezas naturais. “Aprecio essa integração homem-natureza. O único problema que noto é que há pessoas que conseguem sujar o local. É comum ver copos, garrafas e materiais que deveriam seguir para a lata do lixo jogados ao longo do espaço público. Sinceramente, isso não pega bem para um lugar de educação, mas fica a dica: não joguem lixo na mata, isso prejudica a vida dos animais e a nossa também”.
A maior universidade pública de Rondônia vem projetando seus edifícios em comum acordo com o ecossistema. Isso pode explicar as novas edificações construídas há quase uma década e que ocupam o espaço na parte sul do complexo da Unir, construído há 37 anos em uma área cedida por seu patrono, o empresário José Ribeiro Filho.
Os prédios do Laboratório de Engenharia Civil, da Reserva Técnica Arqueológica, de Engenharia Elétrica, da Coleção de Mastozoologia e de Educação Física, estruturas gigantescas que se harmonizam em seu desenho arquitetônico, ocupam este espaço integrado ao meio ambiente. “Talvez aí esteja a soma perfeita entre o frugal e o campo de pesquisa”, finaliza o estudante de Geografia Ari.