Os efeitos desenfreados da globalização provocam uma espécie de alijamento e execração ao encantatório mundo ribeirinho. Lugar e mundo constitui um embelecido imbricamento dos modos de vida originários e tradicionais dos povos da floresta.
A filósofa Lígia Saramago nos esclarece que o lugar, ou a localidade, desempenha, portanto, um papel fundamental na construção do mundo, considerando-se mundo, tanto o conjunto físico de seus arredores como a própria ordem de sentido que torna a existência compreensível para nós.
Saramago recorre a Martin Heidegger para explicar que o mundo possui um caráter tão originário que não haveria qualquer outra instância anterior que pudesse explica-lo ou introduzi-lo, pois tudo que pode ser compreendido o é já no interior da rede de significações mundana.
O estetizante mundo ribeirinho é fabuloso e é fascinante, pois nos presenteia um deslumbramento esplendor da natureza colossal. O mundo ribeirinho é fulgente e brioso, é imensurável e impoluto, e não podemos condená-lo à extinção, face ao engodo espoliante do capital exacerbado.
Segundo o geógrafo Eduardo Marandola, estar no mundo fenomênico ontológico, é nessa perspectiva, uma imersão completa que coloca no centro o ser-no-mundo circunscrito e circundado pelas coisas e pelos homens, circunstanciado no tempo e no espaço.
Para Werther Holzer o conceito de mundo, ainda é um conceito pouco explorado pela geografia, e durante muito tempo foi banalizado em oposições dualistas como: velho mundo/novo mundo e primeiro mundo/terceiro mundo. O mesmo autor nos faz o seguinte esclarecimento:
“Mundo para uma ciência fenomenológica, está na essência do significado de todas as coisas, ele se remete diretamente ao ser que se dirige às coisas e se interroga sobre seu sentido. Mundo para a ciência geográfica também deve ter esse sentido essencial”.
Holzer ainda nos alerta que para a fenomenologia, mundo e lugar são vistos como um par essencialmente inseparável, algo como o par espaço e lugar para a geografia. Nesse sentido podemos dizer que na cotidianidade ribeirinha não há distanciamento entre mundo e lugar, assim como não há uma cisão nos mundos material e imaterial que se completam nesse riquíssimo axioma do imaginário coletivo dos povos da Amazônia. Aqui tem gente!
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Aqui tem gente – parte II