No bojo da equidade ribeirinha, o virtuoso homem da verde mata é também o homem impoluto da generosidade das águas. A embelecida e estesiante água fascina e irradia o ser, provocando um encantatório iniludível na cotidianidade da vida.
Para o geógrafo Eric Dardel, o domínio das águas é inseparável do espaço verde e está do lado da vida. Segundo o mesmo autor, o espaço aquático é um espaço líquido, torrente, riacho ou rio, ele corre e coloca o espaço em movimento. Observemos outra importante reflexão de Dardel:
“O rio é uma substância que rasteja, que serpenteia. Por sua mobilidade, pelo salto soletrado da corrente ou pelo movimento ritmado das águas, as águas exercem sobre o homem uma atração que chega à fascinação”.
Água e homem se completam, e além do rio, a água resolve brotar ao lado da casa ribeirinha como uma espécie brilhante de olho d’água para que o imaculado lar possa banhar-se e saboreá-la de forma sublime e natural. Vejamos o que diz o filósofo francês Gaston Bachelard sobre as águas:
“Se o olhar das coisas for um tanto suave, um tanto grave, um tanto pensativo, é um olhar da água. O verdadeiro olho da terra é a água. Nos nossos olhos é a água que sonha”.
O rio e a mata exaltam a existência humana, resplandece esse encontro vivificante, provoca um relacionamento harmonioso entre o homem e a natureza, é a volúpia inenarrável do prazer dos sentidos, e é o prodigioso mundo que unifica o homem e a terra numa só alma de caráter benevolente.
É preciso atentar com complacência para os povos ribeirinhos da Amazônia, e é necessário que o poder público acompanhe de perto a árdua luta dessa obstinada sobrevivência para que esse brioso povo não caia definitivamente no esquecimento. Aqui tem gente!
Veja também:
Aqui tem gente – parte I