O uso de testosterona por mulheres na menopausa ganhou força nas redes sociais, impulsionado por discursos que prometem rejuvenescimento, aumento da libido e mais energia. Porém, para especialistas, essa “tendência” está longe de representar evolução médica — e, na verdade, acende um alerta de risco.
“Boa parte dessa moda surge de informações distorcidas ou sem base científica”, explica a endocrinologista Dra. Diana Sá, docente da Afya Educação Médica, em Porto Velho. Segundo ela, apesar de a testosterona ser produzida naturalmente em pequenas quantidades pelo corpo feminino, o aumento artificial dos níveis hormonais não possui benefícios comprovados e ainda pode trazer sérios prejuízos à saúde.
A testosterona tem funções relevantes no organismo, como manutenção da massa magra, densidade óssea e libido. No entanto, a especialista reforça que o equilíbrio hormonal — e não a reposição desse hormônio — é o que garante esses efeitos de forma segura.
Atualmente, a única indicação reconhecida para o uso de testosterona em mulheres é o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo, e ainda assim somente após diagnóstico médico criterioso. No Brasil, o cenário é ainda mais delicado: não existe qualquer formulação aprovada pela Anvisa para uso feminino, o que leva muitas pacientes a utilizarem produtos manipulados ou adaptações de versões masculinas, sem controle adequado de dose e sem garantia de segurança.
Entre os riscos estão complicações cardiovasculares, hepáticas, renais e endócrinas, além de efeitos dermatológicos e até psiquiátricos. “Acne intensa, queda de cabelo, crescimento de pelos no rosto, engrossamento da voz e irritabilidade são sinais claros de uso inadequado — e alguns desses efeitos podem ser irreversíveis”, alerta a endocrinologista.
Ela também destaca que o conceito de “reposição fisiológica de testosterona” é impreciso e controverso. “Nas mulheres saudáveis, esse hormônio apresenta níveis naturalmente baixos e variáveis. Não existe parâmetro confiável que justifique reposição. Quando utilizada com fins estéticos ou de performance, a testosterona deixa de ser tratamento e se torna um anabolizante”, afirma.
Como caminhos seguros, Dra. Diana aponta a terapia hormonal adequada — estrogênio e progesterona, tratamentos reconhecidamente eficazes e validados para sintomas como fogachos, irritabilidade e insônia. Existem ainda opções não hormonais que devem ser avaliadas por um médico.
Além disso, o estilo de vida permanece como aliado indispensável. “Sono adequado, alimentação equilibrada, gestão do estresse e atividade física regular influenciam diretamente na produção e ação hormonal. Essas são as medidas mais seguras e eficazes para atravessar a menopausa com saúde e bem-estar”, conclui.










































