Em um movimento que pode redefinir o tabuleiro político de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, na quinta-feira (16), o bispo Samuel Ferreira, líder da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, o maior ramo da denominação evangélica no Brasil. O encontro, realizado no Palácio do Planalto, teve orações, trocas de presentes simbólicos e diálogos sobre o papel das igrejas e do Estado no futuro do país.
A reunião contou com a presença do advogado-geral da União, Jorge Messias, evangélico e cotado para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), ainda não oficializada. A iniciativa faz parte da tentativa do governo de se aproximar de um público que representa cerca de 30% da população brasileira e que, nos últimos anos, mostrou fidelidade ao bolsonarismo.
Durante mais de duas horas, participaram também a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), e o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), articulador do encontro. Nas redes sociais, Lula descreveu a ocasião como “um encontro especial, de emoção e fé”, elogiando o trabalho social e espiritual da igreja. O bispo presenteou o presidente com uma Bíblia do Culto do Ministro e uma edição de ouro do Centenário de Glória, encerrando o momento com uma oração pela proteção de Lula e do Brasil.
De acordo com relatos de participantes, a conversa foi além da diplomacia. Ferreira falou sobre a expansão da igreja nas periferias, enquanto Lula destacou valores cristãos como respeito, fraternidade e apoio às famílias, temas caros ao eleitorado evangélico. O deputado Cezinha definiu o encontro como “uma visita de cortesia”, mas reconheceu que o combate à pobreza e o diálogo inter-religioso foram centrais na pauta.
Mesmo ausente, o bispo primaz Manoel Ferreira, fundador do ministério e pai de Samuel, foi lembrado com reverência. Aos 93 anos, Manoel já delegou as funções principais ao filho, que conduz a denominação com foco em expansão e renovação.
Relações antigas com o governo
Embora a família Ferreira tenha apoiado Jair Bolsonaro (PL) em 2022, Lula manteve pontes com a denominação por meio de interlocutores e governadores aliados, como Tarcísio de Freitas (Republicanos). Samuel Ferreira, que já apoiou Lula em 2006 e Dilma Rousseff em 2010, adota agora uma postura mais pragmática, priorizando a neutralidade institucional. “Nosso papel é trazer paz, não polarização”, resumiu Cezinha de Madureira, considerado o principal porta-voz político da igreja.
Samuel Ferreira: liderança moderna e estratégica
Com 59 anos, Samuel Cássio Ferreira é o rosto moderno da Assembleia de Deus Madureira. Filho do bispo Manoel Ferreira, comanda desde 2017 a Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (CONAMAD) e lidera, desde 2006, a tradicional Assembleia de Deus do Brás, em São Paulo. Formado em Direito e com estudos em Psicologia, Samuel modernizou a instituição, flexibilizando antigos costumes e atraindo jovens e classes médias urbanas.
Sob sua gestão, o Ministério de Madureira se internacionalizou. Hoje possui templos na América do Sul, África e Europa, e uma sede mundial de 80 mil m² na Flórida (EUA), inaugurada em agosto de 2025. No Brasil, preside ainda a CONEMAD-SP, a Junta Conciliadora e a Editora Betel, controlando uma ampla rede de publicações e mídia religiosa.
Além da influência espiritual, Samuel exerce poder político expressivo: em 2022, ajudou a eleger deputados e senadores ligados à igreja e já articula novas candidaturas para o próximo pleito.
A força da Assembleia de Deus Madureira
Fundada em 1950 por Paulo Leivas Macalão e assumida por Manoel Ferreira em 1963, a Assembleia de Deus Madureira é considerada a maior denominação pentecostal do país, com mais de 25 milhões de fiéis e 25 mil templos. A estrutura inclui 34 mil pastores e 200 mil obreiros, superando outras grandes igrejas como a Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, e a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, de Silas Malafaia.
Enquanto Macedo centraliza poder na mídia e Malafaia atua no discurso conservador, Samuel Ferreira aposta em uma influência silenciosa, baseada na capilaridade territorial e na presença comunitária. Essa estratégia transformou o Ministério de Madureira em uma força política e social de peso, especialmente nas periferias urbanas e cidades médias do país.
Em 2025, enquanto Malafaia atacava o governo acusando-o de “autoritarismo”, Samuel defendeu o diálogo e manteve pontes com o Palácio do Planalto — gesto que pode ser decisivo para reaproximar o PT do eleitorado evangélico.
Indicação de Jorge Messias ao STF
O encontro no Planalto também reforçou o caminho para a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal, após a aposentadoria de Luís Roberto Barroso, prevista para 18 de outubro. Messias, membro da Igreja Batista e ex-defensor de Lula na Operação Lava Jato, é considerado um símbolo da aproximação entre o governo e o segmento religioso.
Desde 2023, ele tem representado o Executivo em eventos como a Marcha para Jesus, consolidando-se como um dos nomes mais fortes do governo junto ao público cristão. Sua possível nomeação é vista como um gesto político de equilíbrio entre governabilidade e sensibilidade ao eleitorado evangélico.
Com Informações: Revista Fórum