Para Martin Heidegger – filósofo e escritor alemão de Mebkirch – o tema de investigação da hermenêutica é o ser-aí próprio em cada ocasião, justamente por ser hermenêutico, questiona-se sobre o caráter ontológico, afim de configurar uma atenção a si mesmo bem enraizada. Segundo o mesmo autor, somente a partir da fenomenologia é possível levantar a ontologia correspondente sobre uma base problemática firme e manter-se no caminho adequado. Nesse sentido Heidegger aponta criteriosamente o sentido de abordar, concentrar, questionar e explicar a faticidade.
A filósofa Lígia Saramago no artigo intitulado – como Ponta de Lança: o pensamento do lugar em Heidegger – nos diz que uma das primeiras associações que podemos então estabelecer no contexto do pensamento heideggeriano sobre o lugar é a sua indissolúvel vinculação com a ideia de significatividade, que pode ser também compreendida de abertura de sentido das coisas. A mesma autora nos diz ainda que o que imediatamente se mostra como fundamental nessa passagem é a importância decisiva atribuída à relação entre ser e estar em seu lugar, relação esta de um autêntico e essencial pertencimento de lugar. Nesse sentido podemos dizer que não há como filosofar o lugar sem filosofar o homem em suas vivências.
O geógrafo francês Eric Dardel, reforça essa ideia ao dizer que a paisagem não é em sua essência, feita para se olhar, mas a inserção do homem no mundo, lugar de um combate pela vida, manifestação de seu ser. Enquanto isso o filósofo YI – fu Tuan nos instiga com uma reflexão, ao dizer que um espaço se transforma em lugar à medida que adquire definição e significado. A geógrafa Lívia de Oliveira no artigo – O sentido de lugar – nos deixa uma relevante contribuição entre o lugar e o ser, ao nos informar que é o lugar experienciado como aconchego que levamos dentro de nós.
O lugar do mundo amazônico está, portanto, entranhado transcendentalmente no ser do ente. Pertencimento e sentimento preenchem esse ser, enriquecem a alma, e celebram de forma imaginal estetizante o impoluto sustentáculo espiritual da vida. É na suntuosidade do lugar onde o homem contempla as suas encantarias florestais, engendra os seus pensamentos, entroniza e enaltece seus deuses, sobrevive sem mácula na cotidianidade da fé e do pão e adormece nos devaneios imponentes da noite escutando o remar benevolente do velho –da – canoa.
Na mata o ribeirinho apreende a diversidade das presentificações do tempo, e com o seu peculiar léxico e suas significações, ele vai metamorfoseando a linguagem da vida e sendo metamorfoseado pelas experiências e vivências da hermenêutica ontológica do lugar.