A violência contra as religiões de matriz africana no Brasil atinge níveis alarmantes. Dados de uma pesquisa recente, intitulada “Respeite o meu terreiro”, mostram que 76% dos terreiros no país foram alvos de diferentes formas de violência motivadas por racismo religioso. O estudo foi realizado em 2025 e ouviu líderes de 511 terreiros.
Situações como ataques, depredações e invasões já atingiram 74% das casas religiosas, conforme constatou o levantamento. Um exemplo recente ocorreu em Aracaju, Sergipe, onde o terreiro de candomblé Ìlé Àṣé Ìyá Ọṣún foi invadido e teve objetos sagrados e bens materiais destruídos ou furtados há quase dois meses.
Racismo religioso no ambiente digital e na vida cotidiana
O conceito de racismo religioso busca ir além da mera intolerância. Ele evidencia o racismo como um componente central da violência direcionada aos povos de axé. A pesquisa de 2025 aponta que 80% dos terreiros entrevistados sofreram esse tipo de discriminação pelo menos uma vez em dois anos.
Os relatos mais comuns incluem agressão verbal, xingamentos, ataques diretos e abordagens policiais vistas como discriminatórias. O ambiente digital também é um foco de violência: 52% dos terreiros informaram ter sofrido assédio ou racismo religioso na internet, muitas vezes em perfis de redes sociais usadas para divulgar suas atividades.
Apesar da gravidade e da recorrência dos ataques, a maioria das vítimas não consegue buscar apoio policial ou registrar as ocorrências. Menos de três em dez líderes religiosos entrevistados formalizaram um boletim de ocorrência em uma delegacia.
Ação coordenada de grupos
A pesquisa “Respeite o meu terreiro” é uma iniciativa da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (Renafro) e do terreiro Ilê Omolu Oxum, em parceria com o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania. Os resultados foram apresentados em 4 de dezembro de 2025, durante uma reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), na Suíça.
Mãe Nilce, responsável pela pesquisa, destaca que a violência atualmente é frequentemente associada a uma campanha orquestrada por grupos religiosos, muitas vezes de origem pentecostal. Em alguns casos, esses grupos são associados até mesmo ao narcotráfico e à milícia, conforme a líder religiosa.
Na avaliação de Mãe Nilce e dos pesquisadores, são necessárias políticas públicas mais eficazes e maior conscientização social. Somente o respeito às comunidades de matriz africana pode garantir seus direitos no Brasil.
Canais de denúncia e penalidades
O racismo religioso é crime previsto na legislação brasileira, punido com pena de reclusão de dois a cinco anos ou multa, dependendo do caso.
Em situações de flagrante, a Polícia Militar pode ser acionada pelo telefone 190. Para registrar um boletim de ocorrência, é preciso procurar uma delegacia de polícia. Também é possível usar o Disque 100, um serviço telefônico do governo federal para denunciar violação de direitos humanos de forma anônima e gratuita.










































