O estudo A saúde dos brasileiros em jogo, divulgado nesta terça-feira, 02 de dezembro, aponta que o custo anual das apostas online e jogos de azar para a sociedade brasileira é de R$ 38,8 bilhões. Esse montante representa o somatório de perdas diretas e indiretas relacionadas à atividade.
Para se ter uma dimensão, o valor é maior do que o orçamento do Bolsa Família de 2024 em 23%, ou 26% a mais do que o orçamento do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida do ano passado.
O levantamento é uma parceria do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), Umane e a Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental (FPSM). Os pesquisadores se basearam em estudo britânico e em dados da Unifesp, que estima que cerca de 12,8 milhões de brasileiros estão em situação de risco com relação às apostas.
Custos do jogo e saúde mental
Os custos de R$ 38,8 bilhões estão distribuídos em diversas categorias de danos, sendo a maior parte ligada à saúde:
R$ 17 bilhões: Mortes adicionais por suicídio.
R$ 10,4 bilhões: Perda de qualidade de vida por depressão.
R$ 3 bilhões: Tratamentos médicos para depressão.
R$ 4,7 bilhões: Encarceramento por atividade criminal.
R$ 2,1 bilhões: Seguro-desemprego.
R$ 1,3 bilhão: Perda de moradia.
Desse total, 78,8% (R$ 30,6 bilhões) estão associados a custos diretos e indiretos ligados à saúde. O documento aponta a associação entre o transtorno do jogo e o agravamento de quadros de ansiedade, depressão e risco de suicídio.
Arrecadação versus custos
As bets foram legalizadas no Brasil em 2018 e regulamentadas em 2023. A arrecadação com a atividade chegou a aproximadamente R$ 8 bilhões até outubro deste ano, valor que o relatório considera “insuficiente”.
O contraste entre a arrecadação — com projeção anual de R$ 12 bilhões — e o custo anual de R$ 38,8 bilhões revela uma conta que não fecha do ponto de vista do interesse público.
Atualmente, as bets são tributadas em 12% sobre a receita bruta. No entanto, os autores criticam que apenas 1% do valor arrecadado com as apostas é destinado ao Ministério da Saúde. O repasse efetivo para a pasta somava R$ 33 milhões até agosto, sem vinculação específica para o financiamento da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do SUS.
Impacto Irrisório no emprego e renda
O estudo considera que a atividade das bets tem um impacto “irrisório” na geração de empregos e renda para o trabalhador.
Com base em dados do Ministério do Trabalho, o setor representava apenas 1.144 empregos formais. A estimativa é que, de cada R$ 291 de receita obtida pelas empresas, apenas R$ 1 se transforma em salário formal.
O relatório também alerta para a alta informalidade no setor: 84% dos trabalhadores não contribuíram para a previdência em 2024, índice muito superior à média nacional de 36%.
Sugestões para redução de danos
A diretora de Relações Institucionais do Ieps, Rebeca Freitas, sugere cinco caminhos para mitigar os danos, já que a proibição não está em pauta:
Aumentar a parcela da taxação das apostas online destinada à saúde.
Formar profissionais de saúde no tema para realizar o acolhimento no SUS.
Proibir propagandas e realizar campanhas nacionais de conscientização.
Restringir o acesso, principalmente de pessoas com perfil de risco e/ou menores de idade.
Implementar regras duras para as empresas que visem retorno financeiro ao país e inibam a corrupção.
O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), que representa as principais empresas de apostas, manifestou-se contrário ao aumento de tributação. A entidade argumenta que isso pode fortalecer o mercado clandestino, que já opera em mais de 51% das apostas virtuais no Brasil.











































