Especialistas consultados pela Agência Brasil consideraram que o comunicado enviado pelo governo norte-americano, que ofereceu “qualquer apoio que se faça necessário” à Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, é um procedimento inadequado. A carta manifestou condolências pela perda de quatro policiais na Operação Contenção, que resultou em 121 mortes, e colocou a Divisão Antidrogas dos EUA à disposição.
O professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha (Unifin) lembrou que o Brasil já viveu uma situação similar durante a Lava Jato, que envolveu relações diretas entre autoridades brasileiras e o FBI.
Soberania e Ingerência
O professor da Universidade de Brasília (UnB), Raphael Lana Seabra, especialista em história latino-americana, classificou a ajuda oferecida pelo governo Trump ao Rio de Janeiro como “incomum e inadequada” por envolver questões de soberania nacional.
“Isso não é algo que caiba ao governo dos Estados Unidos fazer. Afinal de contas, eles têm uma série de problemas com drogas também, com o narcotráfico e com grupos ilegais como a máfia. E ninguém faz isso quando acontece alguma coisa como essa nos EUA”, argumentou Seabra.
Bruno Lima Rocha comparou a ação à postura dos EUA durante a Guerra Fria, com a chamada “paradiplomacia”. Este é um tipo de relação direta entre níveis de governos subnacionais, como secretarias de Estado e prefeituras, que acaba “atropelando ou passando ao largo da diplomacia formal do Itamaraty”. Para ele, isso configura uma espécie de ingerência.
Críticas ao Termo “Narcoterrorismo”
Os dois especialistas criticaram a tentativa de setores da oposição brasileira de classificar facções ligadas ao tráfico de drogas como terroristas.
Bruno Rocha argumentou que o terrorismo tem motivação ideológica ou política, sendo um projeto de poder, e não um projeto de acumulação de riqueza. A reclassificação seria uma “aberração” e “uma situação muito arriscada”.
Raphael Seabra citou o caso da Venezuela, onde os EUA admitiram ter autorizado operações secretas da CIA. Segundo ele, isso demonstra a pouca importância que os Estados Unidos dão às leis internacionais ao violarem soberanias em nome de um terrorismo supostamente cometido pelo narcotráfico.
O Que Fazer
Para Raphael Seabra, a melhor atitude do governo brasileiro e do governo estadual é buscar uma solução nacional para o problema, enfrentando o crime organizado na fonte de recurso, e não apenas na base da pirâmide.
Já Bruno Lima Rocha defende que a resposta ao comunicado dos EUA deve ser conjunta e emitida por autoridades federais, como a Polícia Federal e o Itamaraty. Ele sugere que a nota chame a atenção para governadores de direita que estariam tentando se subordinar a um governo estrangeiro, e sugere que tais atitudes sejam tipificadas como violação de soberania e crime de traição à pátria.











































