O governo brasileiro assinou o decreto que regulamenta a TV 3.0, a nova geração da televisão aberta e gratuita no país. A tecnologia, descrita pelo Ministério das Comunicações como uma “televisão do futuro”, promete uma revolução na forma como os brasileiros assistem a programação. Ela irá integrar a transmissão tradicional de áudio e vídeo com a internet, permitindo que os telespectadores interajam com o conteúdo e até realizem compras diretamente pela TV.
A tecnologia, baseada no padrão técnico ATSC 3.0, será implementada gradualmente, começando pelas grandes cidades. A expectativa é que a população já possa usufruir da TV 3.0 durante as transmissões da Copa do Mundo de 2026. Entre as novidades, destacam-se a possibilidade de votações em tempo real, conteúdos personalizados, serviços de governo digital, e-commerce e mais recursos de acessibilidade.
A principal inovação é a interface baseada em aplicativos. Conforme o professor Marcelo Moreno, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), as emissoras poderão oferecer, além do sinal ao vivo, conteúdo sob demanda, como séries e programas. “Isso muda a forma como o telespectador acessa a programação. Em vez de ‘caçar’ a TV aberta, os canais voltam a estar em posição de destaque em um catálogo de aplicativos”, explica.
Retomada do protagonismo da TV aberta
O engenheiro Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), avalia que a TV 3.0 pode ajudar a televisão aberta a recuperar seu protagonismo diante da ascensão dos serviços de streaming (OTT). Atualmente, muitas Smart TVs dão prioridade a aplicativos como Netflix e YouTube, e a nova tecnologia busca reverter esse cenário, devolvendo o espaço dos canais abertos na tela inicial e no controle remoto.
A iniciativa também trará benefícios para o setor público. A TV 3.0 criará uma Plataforma Comum de Comunicação Pública e o chamado Governo Digital, facilitando o acesso a serviços públicos. “Não serão mais apenas canais, mas aplicativos”, afirma Carlos Neiva, da Astral.
Desafios da implementação
Apesar dos benefícios, a migração para a TV 3.0 enfrenta desafios. O primeiro deles são os custos, tanto para as emissoras, que precisarão de novos transmissores e licenças, quanto para os usuários, que deverão adquirir conversores ou televisores compatíveis.
O segundo grande desafio é a universalização do acesso à internet de qualidade. Uma pesquisa do Cetic.br indica que apenas 22% dos brasileiros com mais de 10 anos têm conectividade satisfatória. Para as classes mais pobres e moradores do Nordeste, esse índice é ainda menor. A tecnologia da TV 3.0 depende da internet para oferecer todas as suas funcionalidades, o que pode criar uma lacuna entre aqueles que têm acesso à rede e os que não têm.