O Supremo Tribunal Federal (STF) ouviu, na manhã desta quinta-feira, 24 de julho de 2025, dois réus acusados de participação na trama golpista que pretendia derrubar o Estado no Brasil. Por videoconferência, depuseram o agente da Polícia Federal Marcelo Araújo Bormevet e o ex-major do Exército Ailton Moraes Barros. Ambos fazem parte do chamado Núcleo 4.
Depoimento de Marcelo Araújo Bormevet
Marcelo Araújo Bormevet, que trabalhou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de 2019 a 2022, negou ter investigado adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro ou divulgado notícias falsas sobre autoridades. Entre as suspeitas contra Bormevet estão a criação de fake news sobre os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso, do STF, visando desacreditar o processo eleitoral.
Na Abin, Bormevet coordenava uma área responsável por “pesquisas relativas a pessoas físicas e jurídicas, além de administrar ferramentas e sistemas disponibilizados por órgãos como Receita Federal, Controladoria Geral da União e Polícia Federal”. Ele negou ter usado o sistema First Mile para espionar adversários políticos. Contudo, informou que um subordinado, o subtenente do Exército Giancarlo Rodrigues, já havia utilizado esse sistema em outro departamento.
Bormevet alegou que mensagens trocadas com Giancarlo Rodrigues, usadas pela acusação como indícios de espionagem, “versavam sobre publicações que fervilhavam nas redes sociais”. Ele confirmou ter pesquisado um sobrinho de Barroso, mas sem intenção de prejudicar a imagem das pessoas, e negou ter repassado informações a grupos de WhatsApp simpatizantes de Bolsonaro. Questionado sobre investigações de perfis desfavoráveis ao governo Bolsonaro, ele disse não se recordar de demandas ou de ter repassado informações a terceiros. Sobre uma pesquisa específica sobre o fiscal do Ibama Hugo Ferreira, Bormevet disse que a demanda veio do gabinete da Abin, então chefiado por Alexandre Ramagem, mas não se lembrava da justificativa.
Depoimento de Ailton Moraes Barros
O segundo a depor foi o ex-major do Exército Ailton Moraes Barros, que foi expulso do Exército em 2008 e prestou depoimento como “cidadão comum”. Ele negou as acusações de pressionar autoridades militares a aderirem à tentativa de golpe, afirmando que as acusações se baseavam apenas em mensagens que o mencionavam, sem nada encontrado em seu celular.
Barros negou ter articulado com o general Braga Netto para pressionar militares. Ele mencionou contatos visuais com Braga Netto a partir do primeiro turno de 2022, quando este foi candidato a deputado estadual, e que pediu ajuda para projetos na segurança pública. O ex-militar afirmou ser próximo do presidente Bolsonaro há mais de 40 anos, desde que o ex-presidente era cadete.
Questionado sobre uma publicação em suas redes sociais defendendo a separação de homens e criancinhas e responsabilizando homens covardes e fracos naquele momento político, ele disse que sua intenção era apenas aumentar o número de seguidores e eleitores. Ele marcou o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército e testemunha da suposta trama golpista, para que a mensagem chegasse a ele, e também o jornalista Paulo Figueiredo, neto do general João Batista Figueiredo, para que compartilhasse por ter muitos seguidores.
O Núcleo 4 da Trama Golpista
O Núcleo 4 é acusado de disseminar notícias falsas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas e ataques a autoridades que se opunham aos planos golpistas. Integrantes desse grupo também são apontados como responsáveis por ações estratégicas de desinformação.
Os réus do Núcleo 4 respondem por crimes como organização criminosa, golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e deterioração do patrimônio tombado. Somadas, as penas podem superar os 30 anos de prisão.
São réus no Núcleo 4:
Ailton Moraes Barros – ex-major do Exército
Ângelo Denicoli – major da reserva do Exército
Giancarlo Rodrigues – subtenente do Exército
Guilherme Almeida – tenente-coronel do Exército
Reginaldo Abreu – coronel do Exército
Marcelo Araújo Bormevet – agente da Polícia Federal
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha – presidente do Instituto Voto Legal
O julgamento foi interrompido para almoço e deve ser retomado na tarde de hoje.