As populações tradicionais da Amazônia na sua imaculada beneficência não comungam com as ações de violência e coerção de um estado nacional esdrúxulo e belicoso. O Estado democrático de direito não deve abdicar do seu poder de autoridade, e precisa adotar medidas inclusivas que atenda de forma justa e complacente às necessidades básicas constitucionais dos povos ribeirinhos.
As coletividades amazônicas em seu dadivoso mundo não são adeptas da degeneração moral da sociedade envolvente, e, portanto, agem de forma briosa na virtuosidade do seu espaço vivido. É nesse embelecido espaço de ação que o ente ribeirinho vai em suas espacialidades e temporalidades, apropriando-se das coisas e utensílios do lugar, para cotidianamente preencher o seu ontológico ser.
A filósofa Lígia Saramago recorre ao pensamento heideggeriano para mostrar que a fenomenologia do utensílio, que constitui umas das mais comentadas temáticas de “ser e tempo”, traz em suas linhas uma expressiva reflexão sobre o lugar e a existência humana, pois conforme ressalta a mesma autora:
“A ocupação humana do trabalho, leva, portanto, às configurações de regiões e lugares do entorno do mundo, bem como à sua rede de encontro, basicamente ao tornar presentes para nós aquilo que está ao alcance direto das mãos: as coisas, instrumentos e utensílios que nos cercam cotidianamente”.
Se Eric Dardel nos diz que a forma mais importante do espaço construído está ligada ao habitat do homem, por sua vez, Paes Loureiro também esclarece que o homem cria, renova, interfere, transforma, reformula, sumariza ou alarga sua compreensão das coisas, suas ideias, através do que vai dando sentido a sua existência.
Essa existência – trazendo para a temática ribeirinha da Amazônia – precisa ser muito bem preservada e acompanhada mais de perto pelo poder público vigente, antes que os nossos coletivos tradicionais padeçam desregradamente aos pés escabrosos do necrocapitalismo mundial. Aqui tem gente!