O lugar como categoria de análise geográfica nos mostra – segundo o geógrafo Francês Eric Dardel – que a paisagem não é em sua essência, feita para se olhar, mas a inserção do homem no mundo, lugar de um combate pela vida, manifestação de seu ser. Segundo o mesmo autor, é desse lugar, base de nossa existência, que, despertando, tomamos consciência do mundo e saímos ao seu encontro, audaciosos ou circunspetos, para trabalhá-lo.
Na Amazônia, foi nas atividades do corte da seringa que o seringueiro viu o rio como imbricamento humano e não como divisor de territórios. Um rio que corta a floresta, lugar onde ele corta a seringueira, que por sua vez, corta as rupturas do convívio humano e geográfico. Para Paes Loureiro, ao lado desse mundo de águas, está a floresta – antigo lugar de convivência secular de realidades e signos, no qual vive e se abriga o homem amazônico.
Se espacialidade e territorialidade são indissociáveis à ação humana, a vivência é fruto da experiência de um espaço vivido. Pois de acordo com o geógrafo chinês Yi – Fu Tuan, o espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e significado.
As populações tradicionais da Amazônia impregnaram-se no seu espaço de ação e temporalidades para incorporarem o pertencimento de lugar, e neste pertencer está imbricado a sua identidade ribeirinha. Para Tuan, uma identidade de lugar se alcança pela dramatização das aspirações, necessidades e ritmos funcionais da vida pessoal e dos grupos.
Para Edward Relph, geógrafo e professor da Universidade de Toronto, Lugar não é meramente aquilo que possui raízes, conhecer e ser conhecido no bairro; não é apenas a distinção e a apreciação de fragmentos de geografia. Para o autor, o núcleo de significado de lugar se estende, segundo ele, em suas ligações inextricáveis com o ser e com a própria existência.
Para Edward Relph, lugar é um microcosmo, é onde cada um de nós se relaciona com o mundo e onde o mundo se relaciona conosco, pois o lugar é parte de um processo em que o mundo inteiro está de alguma forma implicado, e isso, é existencial e ontológico.
No estudo intitulado – sentido de lugar – Lívia Oliveira nos informa que o lugar na geografia, desde o início da geografia humanista, foi sempre a essência propriamente dita da ciência geográfica, e que refletir sobre o lugar é refletir o seu sentido na geografia. Segundo a mesma autora, é o lugar experienciado como aconchego que levamos dentro de nós, ou o lugar consciente do tempo social histórico, recorrente e mutável, no transcorrer das horas do tempo em um espaço sentido dentro de um lugar exterior ou interior.