Por Marquelino Santana
Os saberes brasivianos não se encontram ofuscados ou distanciados de sua floresta mitológica – cosmogônica, pois são aspectos que se fundem no seu espaço e tempo, confirmando que não há aversão entre os fazeres cotidianos e o mundo surreal. Ambos estão atrelados às experiências do vivido e entranhados à natureza inebriante do rio Mamu.
Ao homem amazônida cabe irradiar a floresta com seus saberes e fazeres, cabe luzir seu modo de vida, cabe contemplar o prodigioso, assim como cabe propiciar os valores de sua existência, combatendo o nefário mundo da sociedade envolvente.
O pesquisador e escritor João de Jesus Paes Loureiro nos diz que para o nativo da Amazônia, a contemplação é um estado de sua existência. O princípio e o fim de suas relações com a vida cotidiana e a raiz de suas peculiaridades de expressão. O mesmo autor nos diz ainda que tudo isso é uma contemplação que estabelece equilíbrio de limite e grandeza do homem com a natureza.
A floresta brasiviana do rio Mamu carrega em si um emaranhado de mistérios que são divinamente guardados no imaginário austero e estetizante de seus entes. Neste exímio cenário da natureza encantadora há uma fonte inesgotável de saberes espirituais e mitológicos que nos fascina com seus devaneios poetizantes.
Nos devaneios poetizantes de “A poética do espaço”, Bachelard nos instiga a pensar sobre a imensidão íntima do ser impregnado ao seu envolto. A relação intrínseca do homem com a floresta é divinamente celebrada em sua imensidão. Durante esta imensidão, o autor busca na poética de Baudelaire, a afirmação de que o homem é um ser vasto. Esta vastidão profunda do ser, viaja na vastidão da floresta, tornando-se algo entranhado num devaneio mútuo e estetizante.
É no remar da vastidão das águas brasivianas que os enigmáticos seres mitológicos, contemplam prazerosamente a encantadora floresta noturna sob sons divinizados, e numa peculiar e imaculada reciprocidade, a natureza cósmica também o diviniza, celebrando seu nascimento como mais um supremo Deus à serviço de sua pertinaz proteção. É um Deus que em sua celestial existência tem os modos de vida internalizados pelas alegrias e lamúrias das comunidades ribeirinhas brasivianas do rio Mamu.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito da Universidade Estadual de Londrina.