Por Marquelino Santana
Para os pesquisadores Carlos Brandão e Danilo Streck, a pesquisa é participante porque, como uma alternativa solidária de criação de conhecimento social, ela se inscreve e participa de processos relevantes de uma ação social transformadora de vocação popular e emancipatória. Organização, participação, intervenção, neste caso específico, só se tornou possível em virtude da vivência, caso contrário, poderíamos ter fraquejados ainda no meio do caminho. Segundo Pedro Demo, a vantagem da pesquisa participativa é trabalhar com conjunção desafiadora de conhecimento e participação, talvez a potencialidade mais decisiva do ser humano. Saber pensar e intervir juntos é grande desafio da hora e do futuro. Já que, quer queiramos ou não, o planeta é nossa morada coletiva e o bem comum precisa prevalecer.
A pesquisa precisa ser inserida numa dinâmica que possibilite a produção conjunta de conhecimento entre pesquisador e pesquisados. Esta dinâmica fortalecerá as bases da luta de uma coletividade pela conquista de seus direitos. Os desafios nos conduzem a uma ação dialética capaz de transformar uma situação vigente horripilante. Brandão e Streck relatam que a pesquisa participante deve ser pensada como um momento dinâmico de um processo de ação social popular.
Os mesmos autores esclarecem que as questões e os desafios surgidos ao longo de ações sociais definem a necessidade e o estilo de procedimentos de pesquisa participante. O processo e os resultados de uma pesquisa interferem nas práticas sociais e, de novo, seu curso levanta a necessidade e o momento da realização de novas investigações participativas.
Carlos Brandão e Danilo Streck, enfatizam que a pesquisa participante deve ser praticada como um ato político claro e assumido. Não existe neutralidade científica em pesquisa alguma e, menos ainda, em investigações vinculadas a projetos de ação social.
Projetos de ações sociais, devem, portanto, impregnar-se à causa de comunidades excludentes, procurando em suas temporalidades e espacialidades, conhecer cada vez mais o ser dos entes, e desta forma, o pesquisador também, vai se descobrindo com suas ações, e passando a construir o seu ser. Um ser que ao mesmo tempo, vai também, sendo conhecido por outros entes.
Para os pesquisadores Luís Gabarrón e Hernandez Landa, nós devemos estar no mundo e com o mundo, como um ato de entrelaçamento indissolúvel que seja capaz de contribuir decisivamente no advento da dignidade. Segundo os mesmos autores, a pesquisa participante entranha a participação plena e ativa da comunidade na totalidade do processo investigador, abarcando toda uma variedade de grupos sem poder: explorados, oprimidos e marginalizados.
A pesquisa participante, além de promover relevantes experiências na vivência com as populações originárias e tradicionais da Amazônia, torna-se algo muito prazeroso, nos trazendo novos episódios na cotidianidade da investigação, e nos contemplando, inclusive, com um espaço vivido onde os mundos material e imaterial se fundem nas apropriações de narrativas mitológicas que brotam entrelaçadas às ações do mundo real.
Mas a vivência numa pesquisa participante, caracteriza o investigador de todas as suas formas. Proporciona na plenitude da vida os sabores e os dissabores. A vivência nos ajuda a construir e reconstruir os valores do ser, e aprender a suportar algumas passagens em caminhos que nunca cessam. Esta pesquisa, portanto, transforma-se numa rede de compartilhamento do ser dos entes. Na cotidianidade sustentada no espaço e tempo, ela torna-se ousada e dinâmica, visto que procura sempre chegar ao resultado esperado com a maior brevidade possível, mas sem, porém, sufocar os laços de vivência.
A atuação do investigador na pesquisa participante, envolve múltiplos detalhes que precisam ser conduzidos através de uma linguagem cidadã que procure ao máximo causar o entendimento e participação da comunidade pesquisada no contexto de apreensão do problema.
O pesquisador é o sujeito que está atrelado à sujeitos pesquisados, onde ambos se tornam atores da transformação. A vivência promove integração e cooperação, os atores constituem-se mergulhados nas conquistas das mesmas metas, onde ambos vivem unidos na mesma causa.
Veja também: A pesquisa participante de vivência – Por Marquelino Santana
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito da Universidade Estadual de Londrina.