Ainda durante a primeira onda da pandemia, em março de 2020, renomados infectologistas em todo o mundo, inclusive brasileiros já alertavam para a segunda onda pelo novo coronavírus. Nos alertas, os especialistas sempre se posicionaram, quanto às ações implementadas pelos governos e a conduta da população, com relação aos cuidados práticos no trato da doença.
Onze meses após de o mundo ser sacudido com uma avalanche de registros e mortes pelo Sars-CoV- 2, chegando à marca até está quinta-feira (28) de [2.157.355 de óbitos] a impressão é que nem as autoridades e muito menos os cidadãos aprenderam a se comportarem diante da tragédia.
Em Rondônia, Porto Velho com pouco mais de 500 mil habitantes representa o cenário daquilo que os cientistas condenam. Com medidas pouco eficazes, aliado ao relaxamento da segurança das pessoas em relação à Covid-19, o que se ver atualmente é um problema que tem tudo para acabar em algo gravíssimo.
Na quarta-feira (27) o governo do estado estendeu por mais quatro dias, indo até o sábado (30) o decreto com restrições para o comércio e o toque de recolher, que vai das 20h às 6h da manhã.
Numa entrevista ao site UOL Notícias, o prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB/RO) declarou que enxergava o futuro da capital pelo avanço da Covid-19, como incerto. “É um sentimento de muita apreensão. Nós estamos tomando as medidas possíveis, mas estamos muito preocupados. Eu não sei o que nos aguarda. Espero que as medidas adotadas [de isolamento social] surtam efeito necessário”, disse.
Ainda segundo o mandatário, caso a Covid-19 continue avançando, os moradores devem se preparar, pois terão dias difíceis. Para o prefeito o cenário é o resultado das festas de final de ano, as oficiais do município canceladas pelo gestor. Mas Hildon esclarece que, quanto às autorizações para a abertura de boates, shows e festas estavam automaticamente liberadas. Nas entrelinhas o que Hildon menciona é que essa “autorização” foi aprovada em decreto pelo próprio governo do estado, mesmo que fazendo “vista grossa” para um problema que na época já era grave. “Lá pelo mês de novembro todo mundo acreditava que o negócio estava acabando, e aí depois do Natal a coisa começou de novo e maior intensidade”, comentou Hildon ao UOL.
Mas em novembro, milhares de pessoas foram às ruas, nas campanhas eleitorais, em todo o Brasil. Especialistas na área de saúde não tem duvidas de que essa avalanche de casos tenha influencia desta época. “Sem dúvidas a situação hoje não é meramente das festas de final de ano, envolve tudo, inclusive as campanhas eleitorais que todo mundo sabe que teve aglomeração, as ruas estão ai para denunciar”, comenta um especialista do hospital Cemetron que prefere não se identificar.
Para o especialista o que houve em Porto Velho foi um relaxamento das medidas, auxiliadas por decretos estaduais que pouco tem interferido no comportamento dos cidadãos. “Não tem como acreditar em medidas em que o cidadão passa o dia fora de casa, bebe durante a noite em bares, (não me refiro aqui aos que trabalham), mas pessoas que estão nas ruas para aglomerar, que não usam máscara, pois é o que mais acontece. Vá ao [espaço alternativo] para você ver o absurdo que é aquele lugar. Para ser mais claro na minha colocação, não vejo o governo punir ninguém de forma eficaz. Esses decretos são fantasiosos, sempre resguardam um determinado grupo. Quanto às pessoas, muitas perderam o respeito por elas, pelas que morreram, perderam o respeito por algo que não se cumpre, não existe punição na prática. Se existisse os hospitais não estariam tão lotados quanto estão hoje, e o estado praticamente colapsado”, declara o infectologista.
Em uma declaração feita no sábado (23), Hildon Chaves afirmou que a saúde de Porto Velho havia entrado em colapso. Horas mais tarde o governador Marcos Rocha (sem partido) confirmou a informação. No domingo (24) o governo começou a enviar pacientes doentes com a Covid-19 para tratamento em outros estados. Na mesma entrevista ao site UOL, Hildon expõem um alerta. “A gente não chegou ao ponto de morrer gente na rua, não. Mas se não for feito, é possível que chegue a isso”, disse.
Mas o problema não se resume apenas a Rondônia, o segundo estado a pedir socorro ao governo federal depois do Amazonas. O Estado de Roraima já começa a ser afetado pelo crescente surto da Covid-19. Metade das unidades de saúde dedicada para tratamento aos pacientes com a doença está com 100% dos leitos ocupados. Na quarta-feira (27) o governo de Roraima por meio da Secretária de Estado da Saúde pediu ajuda da Venezuela e Guiana com o objetivo de evitar o mesmo cenário que ocorreu no Amazonas. Da Venezuela o pedido é para que o país ajude no abastecimento de cilindros de oxigênio.