Familiares e amigos da adolescente Raíssa Sotero Rezende, de 14 anos, torturada e assassinada na terça-feira (25) por duas colegas na Praia de Maria Farinha, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, organizaram um protesto cobrando mais rigor na punição das suspeitas, ambas de 15 anos. Com cartazes e camisetas estampadas com a foto de Raíssa, o grupo se reuniu no Marco Zero, no Bairro do Recife. A intenção é chamar a atenção da sociedade para as atrocidades cometidas pelas garotas que espancaram, esfaquearam e afogaram a vítima. Toda a ação foi filmada por elas e o vídeo ganhou grande repercussão nas redes sociais.
“Queremos Justiça. Que não sejam só esses três anos”, apela a mãe de Raíssa, Gerlane Sotero, se referindo ao fato de que, por serem adolescentes, as suspeitas só podem ficar internadas em uma instituição de reeducação até completarem 18 anos. Gerlane também contou que a filha brigava muito com uma das adolescentes responsáveis pelo crime, com quem manteve uma relação amorosa por cerca de dois anos, mas disse nunca ter visto marcas de agressão na garota. Ela também afirmou não saber que Raíssa sofria ameaças, o que vem sendo relatado por várias amigas dela.
Vídeo mostra sequência de tortura em detalhes
No início das imagens gravadas pelas suspeitas, a adolescente de 14 anos aparece ensanguentada na beira da praia e não tem forças para reagir às várias pancadas no rosto dadas por uma das envolvidas. Ela veste uma farda da Rede Pública de Ensino do Recife. Por conta do teor extremamente violento do vídeo e por respeito à família da vítima, o OP9 não vai divulgar as imagens.
Enquanto chora e apela para que a deixem ir embora, a garota é segurada pelos cabelos, xingada e acusada de namorar um homem casado. Segundo amigos, o termo se refere a uma das agressoras, que seria transexual. Em seguida, ela, que também foi esfaqueada na região do pescoço e da nuca, é arrastada para dentro do mar, onde leva mais pancadas no rosto e é mantida embaixo d’água até perder os sentidos. No vídeo, é possível ouvir a pessoa que filma incitando as agressões: “Tá com pena? Afoga ela!”, diz o adolescente transexual.
No fim da gravação, quando a vítima é arrastada já desfalecida de volta para a areia da praia, uma testemunha aparece e começa a gritar com as suspeitas, questionando se foram elas que fizeram aquilo, ao que elas respondem dizendo que a adolescente morreu por conta de uma suposta traição. Pouco antes de o vídeo ser encerrado, a pessoa que presenciou a cena diz que as responsáveis não vão sair do local e pede para que alguém chame a polícia. A vítima é então retirada do mar para ser socorrida, mas já estava sem vida.
De acordo com o delegado Augusto Cunha, que esteve no local, o corpo apresentava vários ferimentos e sinais de afogamento, mas somente o laudo tanatoscópico vai definir a causa da morte. A adolescente também apresentava cortes na mão, que podem ter ocorrido quando ela tentava se defender das agressões.
Delegado instaurou inquérito para descobrir quem compartilhou vídeo em que morte da adolescente é mostrada
Além da apuração da morte da adolescente, a polícia também vai investigar quem foi o responsável pelo vazamento do vídeo em que Raíssa aparece sendo torturada, agredida e depois afogada. As imagens se disseminaram pelas redes sociais pouco depois do assassinato da garota.
O compartilhamento de conteúdo mostrando pessoas mortas é considerado crime pela lei brasileira. O responsável pela publicação das imagens pode ser enquadrado no artigo 212 do Código Penal, que prevê o crime de vilipêndio de cadáver e estabelece pena de uma a três anos de prisão e multa. Até agora, porém, a polícia tem poucas informações sobre em que celular o vídeo foi gravado e quem estaria de posse do aparelho.