Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego identificou a enzima que desencadeia a cromotripsia, um fenômeno de caos genético que faz com que alguns tipos de câncer evoluam de forma rápida e se tornem mais resistentes a terapias. A descoberta, publicada na revista Science nesta segunda-feira, 15 de dezembro de 2025, ajuda a explicar por que certos tumores não seguem o ritmo lento de mutações esperado.
A cromotripsia é o processo no qual um cromossomo inteiro se quebra em dezenas, ou até centenas, de pedaços, sendo em seguida remontado de forma desordenada dentro da célula. Esse evento, que é raro em células saudáveis, é surpreendentemente comum em tumores, estando presente em cerca de um em cada quatro cânceres humanos. Em casos como o osteossarcoma (câncer ósseo agressivo), a taxa é ainda maior.
O caos genético provocado pela cromotripsia confere ao tumor uma grande vantagem evolutiva, permitindo que as células cancerígenas se adaptem rapidamente para driblar medicamentos e acelerar a proliferação.
A Enzima N4BP2 é a Resposta
Apesar de a cromotripsia ser conhecida há mais de uma década, os cientistas não entendiam o que iniciava esse processo destrutivo. Sabia-se apenas que estava ligado a falhas na divisão celular, nas quais um cromossomo ficava isolado dentro de uma estrutura frágil chamada micronúcleo.
A pesquisa descobriu que a enzima responsável por aproveitar a exposição do DNA no micronúcleo é a N4BP2.
Evidência Científica: Ao analisar as nucleases humanas (enzimas que cortam DNA), a N4BP2 foi a única capaz de entrar nos micronúcleos e provocar danos extensos ao DNA.
Controle: Quando os cientistas removeram a N4BP2 de células de câncer cerebral, a fragmentação cromossômica despencou. O oposto — forçar a presença da enzima em células saudáveis — provocou a quebra de cromossomos intactos.
Novo Alvo para Tratamento
O estudo também encontrou um padrão em mais de 10 mil genomas de câncer: tumores que produziam grandes quantidades da enzima N4BP2 eram aqueles com mais sinais de cromotripsia e também com níveis elevados de DNA extracromossômico (ecDNA).
O ecDNA, que aparece como pequenos anéis soltos carregando genes que aceleram o câncer, está associado a tumores mais agressivos. A nova pesquisa sugere que o ecDNA pode ser uma consequência direta da cromotripsia, formado quando fragmentos do cromossomo quebrado passam a circular de forma independente.
A identificação da N4BP2 como o “gatilho” desse processo abre uma nova frente de investigação. O objetivo é desenvolver formas de bloquear a enzima, ou as vias que ela ativa, para reduzir o caos genético do câncer e, consequentemente, frear a capacidade do tumor de se adaptar e se tornar resistente aos medicamentos.











































