As pesquisas eleitorais, algumas ainda em campo e outras já devidamente tabuladas, começam a desenhar com nitidez o mapa eleitoral de Rondônia para 2026, tanto na disputa pelo governo quanto para o Senado. No Executivo estadual, Marcos Rogério (PL) e Adailton Fúria (PSD) despontam como polos naturais da disputa, consolidando uma polarização que, por ora, sufoca qualquer tentativa consistente de terceira via com musculatura política real.
Nesse contexto, Hildon Chaves (PSDB) cometeu o erro clássico dos políticos inseguros: piscou. Ao sinalizar uma candidatura alternativa a deputado federal, revelou hesitação. O eleitor percebeu. Resultado: patina abaixo dos dois dígitos e esvaziou sua pretensão ao governo. Na política, admitir plano B é pecado mortal. Tentou recuar e reassumir o figurino de candidato ao Executivo, mas o estrago já estava feito. Apoio não se constrói com dúvida, e eleição não se vence com ambiguidade.
Para o Senado, o cenário é mais caótico — e exatamente por isso mais interessante. Muitos nomes, nenhum favorito absoluto. Pelas pesquisas divulgadas e pelas sondagens internas às quais esta coluna tem acesso, ao menos cinco pré-candidatos aparecem tecnicamente empatados. Tradução simples: as duas vagas estão escancaradas. Tudo pode acontecer. Inclusive o imponderável, que na política costuma ser regra, não exceção.
O maior erro de Hildon, na modesta opinião deste cabeça-chata, foi não ter se apresentado como alternativa ao Senado. Isolou-se numa candidatura solitária ao governo, deu com os burros n’água e, desnorteado, flertou com a Câmara Federal. As vagas senatoriais tendem a ganhar centralidade nesta eleição, impulsionadas pela polarização nacional e pelo uso eleitoral do STF como espantalho retórico. Hildon poderia correr por fora, com discurso moderado, perfil testado e densidade eleitoral. Preferiu o isolamento. Agora, está perdido como cego em tiroteio.
Outro episódio revelador envolveu o deputado estadual Delegado Camargo, que caiu numa armadilha política digna de marinheiro de primeira viagem durante audiência pública na Assembleia Legislativa sobre orçamento e soldos da tropa militar. Ao bater boca com o casal Boabaid, expôs que ainda está verde para driblar as emboscadas que a política reserva aos que ascendem rápido demais.
Camargo, que sonha com voos mais altos, precisa conter os arroubos de delegado e exercitar com mais frequência a astúcia política. A memória daquela sessão ruidosa não ajuda quem mira uma cadeira no Senado. Política é memória — e memória não perdoa destemperos. O pós-audiência foi um espetáculo lamentável: ameaças, bravatas e desafios para vias de fato. Um festival de mediocridade. Responder provocações no mesmo tom é descer ao nível de quem nada tem a perder. Ele tem.
Embora Camargo tenha razão em várias críticas ao comando da Polícia Militar, sobretudo no que diz respeito ao avanço das facções, a forma importa. Sem calibragem, a crítica vira caricatura. Dá para ser oposição com firmeza, sem histeria. O eleitor reprova pirotecnia e costuma punir quem confunde autoridade com descontrole.
Também causou indignação o anúncio de gratificações natalinas polpudas por parte da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Contas, bancadas pelo erário, enquanto a base do funcionalismo amarga salários aviltantes. O que deveria ser gesto nobre virou tapa na cara. Servidores da saúde e da educação, submetidos a jornadas exaustivas, receberão em um mês menos do que os “mimos” pagos a castas privilegiadas. Se o dinheiro vem da mesma fonte, o benefício deveria ser universal. Do contrário, é indecência institucionalizada.
No Palácio Rio Madeira, o governador Marcos Rocha segue indeciso sobre renunciar ao cargo para disputar o Senado. O rompimento precoce com o vice criou uma armadilha perfeita. Se renuncia, perde o peso da máquina. Se fica, enterra o projeto senatorial e compromete as ambições eleitorais da esposa e do irmão. Fique ou saia, será alvo. Aliás, já é.
Nos bastidores, coronéis do primeiro escalão ensaiam a transição para a política eleitoral, expondo ainda mais a fragilidade do governo. Esperar lealdade absoluta de quem sonha com carreira própria no apagar das luzes é ingenuidade — ou autoengano. Ou Marcos Rocha impõe ordem, ou terminará o mandato sozinho, sem um único coronel ao lado. A debandada é questão de tempo.
Enquanto finge refletir sobre o futuro político, o PSD trabalha nos bastidores para fisgar o governador, oferecendo abrigo partidário e, de quebra, a candidatura ao Senado. Querem o pacote completo: Marcos Rocha e a máquina. No União Brasil, legenda à qual Rocha ainda está formalmente filiado, o clima é de desconfiança mútua. Promessas ali não viram direito adquirido. Viram armadilha.
No PSD, o ambiente é outro. Rocha circula em terreno mais confortável, embalado pelo namoro político com Gilberto Kassab, especialista em transformar conveniência em projeto duradouro. Ali, o governador não é apenas tolerado: é desejado.
Por fim, fica o registro: lamentavelmente, o governador desmarcou em cima da hora a entrevista com o podcast Resenha Política. Uma pena. Teríamos confrontado promessas e realizações de sete anos de governo. O convite segue aberto. Em compensação, a entrevista com o prefeito Léo Moraes entregou o que prometeu: conversa franca, sem filtros e sem roteiro combinado.
A coluna entra em breve recesso na semana do Ano Novo. Depois, volta com força total. Este cabeça-chata se ausenta por quinze dias nas praias paraibanas, mas retorna mais apimentado. Gratidão registrada a Milton Junior, da CesBrasil, responsável pela excelência técnica do estúdio do podcast. Não há igual em Porto Velho.





































