O Brasil político anda tão previsível que até as reviravoltas já vêm com roteiro pronto. Depois de anunciar sua pré-candidatura à Presidência da República com pompa, sobrenome pesado e bênção do pai condenado, Flávio Bolsonaro, o 01, resolveu, em menos de 72 horas, “negociar” a própria desistência. Arregou em público, abriu o balcão de negócios e deixou claro que o verdadeiro projeto nunca foi o país, mas sim a liberdade do pai preso por atos golpistas.
Pois bem. Passado o susto, o 01 mudou de ideia de novo. Agora, voltou atrás na possibilidade de desistência e reafirmou que segue, sim, pré-candidato. Traduzindo do juridiquês político para o linguajar popular: arregou do arrego.
O que era chantagem virou blefe mal ensaiado.
Primeiro, ele dizia que só sairia do páreo se o pai pudesse disputar 2026, coisa juridicamente impossível no cenário atual. Depois, ao perceber que a reação foi negativa, que não houve sinal de anistia e que o “mercado”, o Centrão e até aliados torceram o nariz, o discurso mudou: agora quer bancar o firme, o resiliente, o herdeiro legítimo do bolsonarismo.
Mas a verdade é nua e crua: a pré-candidatura de Flávio nunca foi sobre governar o Brasil. Sempre foi sobre criar pressão política sobre o Judiciário, testar o terreno para uma futura anistia e medir até onde o sistema cede em troca de estabilidade eleitoral.
O 01 entrou no jogo como isca. Quando viu que o peixe não mordeu, tentou sair. Agora, percebendo que sair enfraquece ainda mais o grupo, resolveu ficar. Não por convicção, mas por falta de opção.
Enquanto isso, Jair Bolsonaro segue condenado e preso, e a narrativa da “perseguição” continua sendo requentada para consumo de militância. O discurso da “negociação” mostrou o que realmente está por trás dessa candidatura: não é projeto de país, é projeto de impunidade.
E o mais curioso: em menos de uma semana, o bolsonarismo conseguiu provar, na prática, aquilo que seus adversários sempre disseram, que suas decisões não são políticas, são familiares, judiciais e de sobrevivência pessoal.
A pergunta que fica não é se Flávio será candidato. A pergunta real é: até quando o Brasil vai aceitar que a disputa presidencial seja usada como moeda para tentar libertar um condenado?
Pensamento do dia
“Na política do clã, a convicção muda conforme a chance de impunidade.”









































