As veias líquidas abertas e suas inefáveis correntes fluviais, sustentam e equilibram as opulentas e suntuosas embarcações, que dançando sobre a vastidão das águas, ornamentam os exuberantes leitos dos rios que correm abraçados e entrelaçados aos tradicionais tapirís ribeirinhos, silenciosamente posicionados de plantão.
Erguido imensuravelmente no ápice dos barrancos de degraus de barro, o tapirí é fortemente sustentado por imponentes e resistentes colunas de Itaúba. Os esteios fornecidos pela própria natureza são artesanalmente amarrados por prolongados e duradouros cipós-titica, que por sua vez se imbricam e se entranham às coberturas feitas de palhas de Ouricurí e às paredes e assoalhos extraídos, batidos e secados da inebriante Paxiúba amazônica.
Esse emaranhado tesouro natural, fortificado por mourões, estacas, palhas, cipós e diversificados caules de palmeiras, é a peculiar casa do sagrado lar ribeirinho da Amazônia Sul – Ocidental brasileira. É do alto e obstinado tapirí e sob o clarear inefável da luz do velho candeeiro de flandre enferrujado e pavio desfiado de algodão, que o lar beiradeiro do rio Abunã, ainda adormecido, é despertado pelo estudiante ronco da garganta fronteiriça do invencível batelão.
De forma liberta e serena, o batelão encharcado atraca às margens do seringal Potossí, onde as cordas são arremessadas e amarradas no velho tronco de massaranduba que já durara décadas. Com a poronga iluminada na cabeça, o seringueiro desce do tapirí sobre os degraus de madeira, confeccionados de Sucupira preta, para em seguida, descer os degraus barrentos com os seus inseparáveis sapatos de seringa.
O ribeirinho entrega as suas pélas de borracha natural em formato de bola que acabara de ser defumada no Buião, e entrega ao regatão, o seu comerciante fluvial. Em troca, ele recebe: sal, cartuchos de espingarda, querosene, pilhas de rádio e algumas peças de roupa para a alegria do lar. O Batelão despede-se do tapirí sob olhares de felicidade que se cruzam. Era véspera de Natal.
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