No oeste de Rondônia, Guajará-Mirim amanheceu em festa para celebrar o dia 8 de dezembro, dedicado à sua padroeira, “Nossa Senhora do Seringueiro”. A santa, venerada pela população local, é considerada a figura mais amazônica da Igreja Católica Apostólica Romana nesta parte do Brasil. A Catedral de Nossa Senhora do Seringueiro, em Guajará-Mirim, é um marco religioso para a população local. Sua construção, iniciada em 1955 e concluída em 8 de dezembro de 1971, levou 15 anos sob a supervisão de Dom Francisco Xavier Rey, o primeiro bispo do município.

Dom Rey escolheu o nome da catedral como homenagem ao trabalho desenvolvido por religiosos ao longo dos rios da região, em um período de grande sofrimento para os seringueiros. “Dom Rey, comovido com o sofrimento dos seringueiros nas colocações dos seringais, e mesmo diante de uma proposta inédita e surpreendente, decidiu dedicar a catedral de Guajará-Mirim a Maria, protetora desses trabalhadores. Assim, em 11 de fevereiro de 1956, durante a festa da Aparição da Imaculada, Dom Rey criou o novo título de Nossa Senhora do Seringueiro, conforme descrito em seu próprio texto: “Dos perigos da mata virgem – febres, cobras, onças e a angústia no coração de suas vítimas – originou-se, sob este novo título, a tradicional e já tão arraigada devoção do seringueiro à sua Excelsa Protetora. De todos os trabalhos manuais, o do seringueiro, disperso e isolado na vastidão da insalubre floresta amazônica, talvez seja o mais desamparado, desprotegido, desconhecido e sacrificado”, relata o texto.

Dom Francisco Xavier Elias Pedro Paulo Rey (Pierre Élie Rey), um religioso francês, assumiu a liderança da recém-criada Prelazia de Guajará-Mirim em janeiro de 1932. A Prelazia tinha como objetivo catequizar os indígenas e seringueiros da região. Dom Francisco, descrito por todos como um homem simples e religioso de pulso firme, dedicava-se incansavelmente a auxiliar a população local. O relato que se segue preserva as motivações que levaram à escolha da santa padroeira para a região, em meio ao árduo trabalho dos seringueiros. “Uma vez adentrando a mata traiçoeira, seu pensamento se volta incessantemente a Deus, buscando a proteção de Nossa Senhora. O seringueiro merecia um sinal visível da proteção perene e invisível de sua Rainha. Da ideia à resolução, da resolução ao projeto, foi um passo rumo à concretização: fixada na tela pelo pincel artístico de uma jovem paulista, eis que aparece, envolta em luz celestial, ao seringueiro deslumbrado em plena fauna, portando o Santo Rosário na mão esquerda”.

A história preservada pela Catedral narra que a imagem de Nossa Senhora do Seringueiro, padroeira de Guajará-Mirim, surgiu como um presente, fruto do talento de dois artistas plásticos: uma pintora e um escultor. A estátua original, esculpida em madeira nobre por um renomado escultor, foi ofertada aos amazonenses em uma solene entronização no santuário dedicado a ela, então em construção na sede prelatícia de Guajará-Mirim. Posteriormente, após diversas tentativas, a tão almejada imagem de Nossa Senhora, concebida a partir de uma ideia de Dom Rey e com a colaboração artística de uma pintora e um escultor, foi finalmente criada em São Paulo.

A Catedral de Guajará-Mirim, imponente, destaca-se na paisagem, sendo um dos símbolos mais representativos da cidade e um dos seus principais cartões postais. O jornalista Emerson Barbosa, que morou em Guajará-Mirim por três anos, frequentou a Catedral para cobrir diversos eventos, especialmente a pedido de Dom Geraldo João Paulo Roger Verdier, o terceiro bispo da diocese. Barbosa relata a sua relação com a Igreja numa época em que o jornalismo local procurava explorar aspectos mais íntimos do município, muitas vezes focando em situações de desaprovação. Contudo, o jornalista ressalta que também existiam “partes boas”, reveladas por um povo ordeiro e educado e que sempre o tratou bem, que vive uma realidade singular, peculiar a um município fronteiriço. “Tive uma relação muito profunda com Guajará-Mirim, que considero até íntima. Vivi intensamente aquele município, conheço cada cantinho da cidade como a palma da minha mão. Reconheço as pessoas até pelo sobrenome. Tenho consciência das carências que ainda persistem lá, e sei da bondade daqueles que, com o pouco que têm, procuram ajudar. Conheço os problemas, enfim, conheço Guajará-Mirim por completo. Guardo na memória todas as reportagens, mesmo as em imagem, situações que me comoveram e me trouxeram alegria. E, falando em felicidade, fui muito feliz e realizado nesse município. Por isso, carrego Guajará-Mirim dentro de mim e, mesmo sendo de Porto Velho, me considero o mais guajaramirense de todos”, conclui.










































