Um total de 11 pessoas foram mortas diariamente por intervenção policial em nove estados brasileiros ao longo de 2024. Pelo menos oito dessas vítimas diárias eram pessoas pretas ou pardas. Os dados são do boletim “Pele Alvo”, divulgado em 6 de novembro de 2025, pela Rede de Observatórios da Segurança.
Os estados analisados são Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo, que somaram 4.068 mortes no ano passado. Desse total, 3.066 vítimas eram pretas ou pardas. O número é ligeiramente superior ao registrado em 2023, que foi de 4.025.
Disparidade racial é acentuada
O estudo conclui que, de forma geral, pessoas negras têm 4,2 vezes mais chances de serem vítimas da letalidade policial do que brancos nas regiões analisadas. Em todos os estados, a proporção de pessoas negras entre os mortos superou a sua proporção na população em geral.
Bahia: O estado apresentou a maior taxa entre negros, com 11,5 mortos pela polícia para cada 100 mil moradores, contra 2 para cada 100 mil entre brancos. A proporção de pretos e pardos entre os mortos na Bahia, onde eles são 79,7% da população, atingiu 95,7%.
Rio de Janeiro: O estado tem a maior diferença proporcional. Enquanto 57,8% da população é preta ou parda, esse grupo representou 86,1% das mortes causadas pela polícia.
Pará: A mortalidade para negros ficou em 8,1 a cada 100 mil habitantes, contra 3,2 a cada 100 mil para brancos.
Além do recorte racial, o boletim destaca que 57,1% das vítimas, o que equivale a 2.324 pessoas, eram jovens com idades entre 18 e 29 anos.
Lógica de “modo guerra”
Para a pesquisadora Francine Ribeiro, da Rede de Observatórios da Segurança, os dados comprovam que as forças de segurança desses estados têm atuado em “modo guerra”.
“As polícias, em todos os estados, têm seguido uma lógica parecida, de enfrentamento letal, com a justificativa de combate ao tráfico de drogas e ao crime”, disse Francine. A pesquisadora ressalta que a falta de investimento em prevenção e integração com outros setores impede a redução da violência.
A letalidade na Bahia, o estado com maior número de mortes (1.556), cresceu 139,4% em seis anos, enquanto no Rio de Janeiro caiu 61,2% no mesmo período, graças, em parte, à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, a ADPF das Favelas. Contudo, a pesquisadora ressalva que operações recentes no Rio de Janeiro podem reverter a tendência de queda.
Em São Paulo, a letalidade policial vem escalonando, com alta de 93,8% em três anos, após mudanças que permitiram que as câmeras corporais fossem acionadas, em vez de operarem de modo contínuo.
Recomendações para autoridades
Os pesquisadores deixam recomendações às autoridades para reverter o quadro de letalidade policial:
Tornar obrigatório o uso de câmeras corporais em todas as unidades e operações.
Eliminar a rubrica “não informado” para raça/cor das vítimas.
Divulgar publicamente os protocolos de atuação policial.
Rever o modelo de formação e treinamento policial, priorizando a redução da violência.
Desenvolver planos estaduais e municipais com metas claras e indicadores de resultado.








































