O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 apontou uma acentuada desigualdade regional na oferta de infraestrutura básica nas escolas públicas do país. O levantamento, elaborado pelo Todos Pela Educação, Fundação Santillana e Editora Moderna, revela que, embora 95% das escolas públicas tenham itens básicos, há carência crítica em serviços de saneamento.
Apenas 48,2% das escolas públicas estão ligadas à rede pública de esgoto. Além disso, mais de 20% das unidades ainda não contam com o serviço de coleta de lixo.
Desigualdade Crítica na Infraestrutura
O recorte por região demonstra a grande disparidade do acesso à rede de esgoto:
Norte: Apenas 9,3% das escolas públicas estão ligadas à rede de esgoto.
Nordeste: O índice é de 30,8%.
Sudeste: O acesso atinge 84,7% das unidades.
A situação no Norte é a mais precária em vários aspectos. Mais da metade das escolas da região (54%) não tem coleta de lixo, enquanto quase todas as escolas do Sul (97,2%) contam com o serviço.
Manoela Miranda, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, alerta que a ausência de infraestrutura básica não é só uma questão de dignidade, mas está diretamente ligada às condições de aprendizagem dos estudantes.
“Três em cada dez escolas públicas no Acre e em Roraima não têm água potável, é uma situação difícil. Falta energia elétrica em um terço das escolas públicas no Acre e no Amazonas. E a falta de banheiro atinge um quarto das escolas públicas em Roraima”, exemplificou Miranda. A especialista ressalta a necessidade de políticas que levem em conta o “fator amazônico”, considerando os custos logísticos da região.
Infraestrutura de Apoio à Aprendizagem
O anuário também apontou desigualdades na infraestrutura voltada ao ensino:
Bibliotecas e Salas de Leitura: Estão mais presentes no ensino médio (86,5%) do que nos anos iniciais do fundamental (47,2%).
Laboratórios de Informática: Presentes em apenas 27% das escolas de anos iniciais, mas em 73% das de ensino médio.
Laboratórios de Ciências: No ensino médio, o índice é de 46,9% das unidades, mas cai para 40% na Região Norte.
Na educação infantil, a desigualdade regional é gritante: apenas 11,5% das escolas públicas no Norte têm parque infantil, enquanto o percentual no Sul chega a 87,4%.
Desafios na Aprendizagem
O documento conclui que, além da infraestrutura básica, a educação pública de qualidade requer equipamentos voltados ao ensino, como laboratórios e tecnologia.
Apesar de 95,4% das escolas públicas terem acesso à internet, somente 44,5% estão conectadas com parâmetros adequados para o uso pedagógico em sala de aula, o que “limita o uso efetivo nos processos de ensino e aprendizagem”.
Em relação aos resultados de aprendizagem, o país ainda tem um longo caminho:
Apenas 4,5% dos jovens da 3ª série do ensino médio público tinham aprendizagem adequada em matemática e língua portuguesa.
No 9º ano do fundamental, o percentual é de 13,3%.
Manoela Miranda destacou a importância de o anuário servir como base de dados para a elaboração de políticas educacionais, como o Plano Nacional de Educação em tramitação no Congresso, para que o país avance em uma educação de qualidade com equidade.