A floresta brasiviana do rio Mamu carrega no seu bojo uma exuberante riqueza mítica, condicionada a um vasto campo de singularidades e pluralidades que impregnado aos modos de vida daquela comunidade ribeirinha da Amazônia pandina boliviana, adquire um espaço de ação transcendental poetizante, capaz de estabelecer em sua dimensão espiritual, um inebriante equilíbrio entre o homem em seu estado criador e a natureza com sua grandeza simbólico – cosmogônica.
Este equilíbrio estetizante na fronteira Brasil – Bolívia, faz com que o espaço vivido amazônico seja metamorfoseado diante de um profundo entrelaçamento entre o ser do ente, e os seres divinizados da natureza que os alojam em sua cosmopolita vastidão que engloba a sua contemplação mítico-devaneante.
Para o escritor João de Jesus Paes Loureiro, é possível que a contemplação devaneante seja uma das atitudes do caboclo, do homem amazônico, propiciadoras de um ethos próprio em sua cultura, gênese dessa teogonia do cotidiano que vai povoando de seres e mitos os rios e a floresta. Desta forma, esta convivência é dotada de um sentimento que influência o próprio comportamento do homem ribeirinho, conforme relata o mesmo autor:
“Um povoamento de seres com os quais os homens convivem sob a dominância de um sentimento estetizador que tece a teia dessa cultura, fator de coesão social e condicionador de comportamentos”.
O mítico, desta forma, passa a fazer parte do ser do homem amazônico em sua essência, modelando seus fazeres e fortalecendo o sentido de pertencimento com a terra, conforme iremos aqui discorrer sobre o abrigo mitológico da mata brasiviana.