Uma trajetória de intensidade e autenticidade
A morte de Angela Ro Ro foi confirmada por seu advogado, Carlos Eduardo Lyrio. Carioca, nascida em 5 de dezembro de 1949, Angela Maria Diniz Gonsalves marcou a MPB com sua voz rouca, intensa e inconfundível. Sua estreia no cenário nacional aconteceu em 1979, com o álbum Angela Ro Ro, que rapidamente se tornou um clássico.
O disco trouxe composições como Amor, Meu Grande Amor, Gota de Sangue e Agito e Uso, canções carregadas de emoção, paixão e um estilo que misturava blues, rock e confissões poéticas. O álbum lhe rendeu lugar entre as vozes femininas mais respeitadas da época, ao lado de nomes como Simone e Marina Lima.
Entre a consagração e os desafios
Apesar do impacto inicial, Angela Ro Ro não conseguiu repetir o mesmo êxito comercial em seus trabalhos posteriores. Produziu seis álbuns até meados da década de 1980, entre eles Escândalo e Simples Carinho, que também se tornaram referências.
Na vida pessoal, as polêmicas ocuparam espaço nos jornais, muitas vezes ofuscando sua música. Episódios conturbados, como brigas em público e relacionamentos expostos, contribuíram para o declínio de sua popularidade. Ainda assim, nos palcos, ela se mantinha autêntica, unindo piano, histórias pessoais e humor ácido em apresentações memoráveis.
Uma artista de alma livre
Antes da consagração, Angela viveu quatro anos na Europa, entre Itália e Inglaterra, onde sobreviveu de trabalhos temporários até conseguir espaço para cantar em pubs londrinos. De volta ao Brasil, participou do disco Transa, de Caetano Veloso, tocando gaita. Foi Glauber Rocha quem a incentivou a entrar de vez no universo fonográfico.
Sua voz grave e presença marcante abriram caminho na Polygram, que apostou em seu talento mesmo reconhecendo seu temperamento difícil. Canções como Amor, Meu Grande Amor, em parceria com Ana Terra, continuam sendo lembradas como símbolos da MPB.
O último ato
Nos últimos anos, Angela enfrentou problemas de saúde e dificuldades financeiras, chegando a pedir ajuda de fãs pela internet para custear tratamentos médicos. As notícias davam conta de complicações pulmonares e renais, além de rumores sobre câncer.
Mesmo em meio a fragilidades, quem teve a oportunidade de vê-la em seus últimos shows pôde testemunhar a força de sua performance. No palco, ela continuava a emocionar com sua interpretação visceral e a comunicação direta com o público.
Legado de uma voz inesquecível
Angela Ro Ro deixa um repertório que continua vivo na memória da música brasileira. Sua forma intensa de viver e cantar, sem medo de expor dores e paixões, transformou sua arte em confissão pública.
Entre altos e baixos, ela se manteve fiel a si mesma, figura ímpar que desafiou convenções e deu à MPB uma voz inigualável. Mais que a artista que pediu ajuda nos últimos anos, o Brasil se despede da mulher que fez história com versos eternos, como os de Amor, Meu Grande Amor.