A dor de ter um familiar desaparecido é algo que Ivanise da Silva Santos conhece bem. Sua filha, Fabiana Esperidião da Silva, sumiu em dezembro de 1995, em São Paulo, e desde então Ivanise a procura e se tornou uma ativista na causa, criando a Associação Mães da Sé. Nesta quarta-feira, 27 de agosto, ela esteve em Brasília para a criação do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, uma plataforma que integra diferentes bases de dados e representa um novo fôlego na busca por pessoas desaparecidas.
“Hoje eu estou aqui em estado de graça porque finalmente a gente vai poder comemorar o marco inicial de uma luta que eu carrego há quase 30 anos”, afirmou Ivanise. Em 2024, foram registrados 81.022 desaparecimentos no Brasil, com uma taxa de localização de 68%, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Unificação de dados e funcionalidades
A nova plataforma tem duas funcionalidades principais, explicou a diretora do Sistema Único de Segurança Pública, Isabel Figueiredo. A primeira é um painel público que disponibiliza fotos e informações gerais dos casos. A segunda é um banco de dados de acesso restrito aos profissionais de segurança, com informações mais detalhadas. A intenção é que os registros de desaparecimentos sejam feitos o mais rápido possível, sem a necessidade de esperar 48 horas, como exigido em alguns protocolos estaduais. “Quanto antes o Estado brasileiro e as instituições de segurança pública souberem desses casos, maior a chance que a gente tem de localizar essas pessoas e de localizar essas pessoas com vida”, disse Isabel.
Segundo Nicolas Olivier, chefe da delegação regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a iniciativa é importante, pois as informações sobre desaparecidos estavam dispersas em diferentes bases de dados. “Um cadastro unificado não é apenas uma lista de nomes. É um verdadeiro sistema de gestão de informações, capaz de cruzar dados, gerar pistas e criar um histórico confiável”, afirmou.
O impacto para as famílias
A brasiliense Kátia Liberato, de 44 anos, também viveu essa dor. Em 1999, sua mãe, Mirian, desapareceu. Sem uma base de dados unificada, Kátia teve que viajar por diversas cidades para abrir boletins de ocorrência. Agora, ela vê a criação do cadastro como uma fonte de esperança. “Esse cadastro unificado renova minhas esperanças. Eu ainda penso em encontrar minha mãe”, desabafou Kátia, que acredita que as informações poderão circular muito mais rapidamente.
O secretário nacional de Segurança Pública, Mario Luiz Sarrubbo, considerou que a sociedade e o poder público têm uma grande dívida com as famílias de pessoas desaparecidas e que a nova plataforma é um passo fundamental para mudar essa realidade.