As intenções malévolas da ganância embrutecida ao capital exacerbado e hostilizante, culmina raivosamente na derrocada das almas amazônicas e na perversa desterritorialização de seus lugares ancestrais.
Esse descalabro fútil e espoliante, transforma-se no gargalo e a cruz, como forma escabrosa de construir cotidianamente o império espúrio e danoso das cinzas em ascensão. A empáfia humana resulta criminosamente na destruição beligerante do planeta, cessando a cultura de paz e anunciando o apogeu triunfante do discurso dominante do ódio evasivo e estigmatizante em desfavor da vida.
João Baptista Herkenhoff – “Ética e Direitos Humanos” – aponta que o discurso de ódio não é mera opinião, mas um ato de violência simbólica, que nega a humanidade do outro. Para Samanta Ribeiro Meyer-Pflug, o discurso de ódio é a manifestação de “ideias que incitem a discriminação racial, social ou religiosa em determinados grupos, na maioria das vezes, as minorias”. Enquanto Daniel Sarmento, afirma que discurso de ódio pode ser caracterizado por “manifestações de ódio, desprezo ou intolerância contra determinados grupos, motivadas por preconceitos”.
O ter está intimamente entranhado ao capital e imbricado na dominação e exploração ao outro, tanto no aspecto individual e coletivo, como no aspecto de “superioridade” doentia dos países hegemônicos sobre os países em desenvolvimento. Essa hegemonia dominante continua enraizada e entrelaçada à América do Sul, como uma ferida colonial histórica, acelerando cada vez mais o crescimento avassalador das classes subalternas em visível estado de vulnerabilidade social do status quo vigente.
Para Boaventura de Souza Santos, as feridas coloniais estão ainda tão abertas e fundas que, tal como as crateras produzidas pela mineração a céu aberto, parecem parte integrante da paisagem. O longo ciclo colonial está inscrito na carne do país até ao mais íntimo tutano. Um país com tanta falsa esperança histórica sente-se agora dominado por tanto falso medo de ser menos europeu que a Europa desenvolvida que sempre recolonizou o colonialismo português para maior benefício dela.
São feridas abertas que desalojam as almas de seus lugares amazônicos, que envenenam as suas águas, que devoram fauna e flora, que desterram seus filhos, que promovem o ódio e a xenofobia, que hostilizam as minorias étnico-raciais marginalizadas, e que fortalecem criminosamente, o conciliábulo do ato de ter.