Organizações socioambientais manifestaram preocupação com a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de suspender a Moratória da Soja. O acordo voluntário, que está em vigor há 19 anos, proíbe a compra de soja cultivada em áreas desmatadas na Amazônia após 2008 e é considerado uma ferramenta importante para a preservação do bioma. A suspensão foi justificada pelo Cade para investigar a possível formação de um cartel entre as grandes tradings internacionais.
A coordenadora de florestas do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti, alertou que, sem a moratória, a soja pode voltar a ser um vetor de desmatamento na Amazônia, o que comprometeria as metas climáticas do Brasil. Organizações como o WWF-Brasil reforçam que o acordo não impediu o crescimento da produção e que a redução do desmatamento de 69% no mesmo período demonstra sua eficácia.
Pressão ruralista e inquérito administrativo
A suspensão da Moratória da Soja foi motivada por uma representação da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, que acusou empresas do setor de praticar um cartel. O Cade instaurou um inquérito administrativo para investigar 30 empresas e proibiu-as de compartilhar informações sobre o acordo.
A WWF Brasil classificou a representação como uma tentativa de expandir a agropecuária de forma desordenada na Amazônia e acusou os grupos favoráveis de ter uma visão “negacionista” sobre os efeitos das mudanças climáticas. A decisão do Cade é vista por ambientalistas como um retrocesso que “pune quem protege as florestas e favorece quem mais lucra com a destruição da Amazônia”.
O acordo já vinha sofrendo ataques em estados como Mato Grosso e Rondônia, o que motivou, em 2024, um manifesto assinado por 66 organizações em defesa da moratória. A decisão do Cade intensifica o debate entre a expansão agrícola e a conservação ambiental na região.