Um estudo recente, publicado na revista Nature Communications, destaca a crescente ameaça aos ecossistemas das regiões sul e equatorial do Oceano Atlântico. A pesquisa, com participação de cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo), aponta para a maior frequência de um trio de fenômenos: ondas de calor, alta acidificação e baixa concentração de clorofila nas águas.
Segundo o estudo, antes de 2016, a ocorrência simultânea desses três eventos era incomum. No entanto, a partir daquele ano, eles passaram a se manifestar anualmente. Essa combinação é um resultado direto da emergência climática, que causa o superaquecimento e a acidificação dos oceanos, devido à absorção de calor e dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera.
Falta de Alimento Agrava a Situação
O superaquecimento e a acidez poderiam ser menos prejudiciais se as espécies marinhas tivessem acesso a alimento em abundância. Contudo, as altas temperaturas reduzem a quantidade de nutrientes essenciais para as algas microscópicas, que formam a base da cadeia alimentar. Essa carência alimentar, somada aos outros fenômenos, aumenta o risco de mortalidade para a vida marinha e gera prejuízos para as atividades de pesca e maricultura.
A pesquisadora Regina Rodrigues, da UFSC e do Inpo, ressalta que essa maior frequência dos fenômenos impede a recuperação dos ecossistemas. A falta de tempo para que a natureza se restabeleça pode levar a danos irreversíveis.
Monitoramento e Impacto Regional
O estudo analisou dados de 1999 a 2018, coletados por satélites, focando em seis regiões do Atlântico Sul com alta biodiversidade. Entre elas, estão o Atlântico Equatorial Ocidental, próximo ao litoral do Nordeste brasileiro, e a Confluência Brasil-Malvinas.
Essas áreas são responsáveis por uma produção pesqueira anual de oito milhões de toneladas, que serve de sustento para comunidades costeiras da América do Sul e da África. A segurança alimentar desses países é, portanto, diretamente afetada pela degradação dos ecossistemas marinhos. Regina Rodrigues reforça a importância de políticas públicas e áreas de conservação para aliviar as pressões sobre o oceano.