Um estudo recente da organização humanitária Aldeias Infantis SOS revelou que as ações de fortalecimento familiar conseguiram evitar o acolhimento institucional de aproximadamente 1.200 crianças e adolescentes nos últimos quatro anos. A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira (30) em São Paulo, mostra que esse número representa mais de 95% dos casos acompanhados, nos quais foi possível preservar os vínculos com as famílias de origem. A organização é líder global em cuidado direto à criança.
Metodologia e Resultados Comprovados
O relatório, intitulado “Prevenindo a Separação Familiar: a Experiência da Aldeias Infantis SOS”, foi conduzido em 14 localidades de dez estados brasileiros. A metodologia incluiu questionários aplicados a 65 profissionais da organização, oito grupos focais com 44 cuidadores (42 mulheres e 2 homens), além de depoimentos de profissionais de Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), conselhos tutelares, Ministério Público e Juizado da Infância e da Juventude.
Michéle Mansor, gerente Nacional de Desenvolvimento Programático da Aldeias Infantis SOS, destacou que os resultados comprovam a eficácia do modelo de atuação da organização. Esse modelo inclui escuta qualificada, apoio psicológico, visitas domiciliares, articulação com serviços públicos e a construção de redes de apoio comunitárias. “Os dados comprovam que quando há um compromisso real com o cuidado, acompanhamento sistemático e apoio contínuo, as chances de uma criança ser afastada de sua família caem drasticamente. A atuação próxima e individualizada transforma realidades e protege direitos na sua origem”, afirmou Mansor.
Propostas e Compromisso Coletivo
O documento apresenta propostas estratégicas para o poder público e a sociedade civil, enfatizando a necessidade de financiamento contínuo para ações de fortalecimento familiar, melhor articulação entre os serviços da rede de proteção (assistência, saúde, educação e justiça), garantia de acesso à educação infantil e reconhecimento da diversidade de arranjos familiares.
Michéle Mansor reforçou que “garantir que nenhuma criança cresça sozinha é um compromisso coletivo que exige a corresponsabilidade de todos: Estado, sociedade e comunidade”. Ela salientou a importância de direcionar esforços na prevenção para evitar o afastamento de crianças e adolescentes de suas famílias por intervenção judicial, que deve ser uma ação de último recurso.
José Carlos Sturza de Moraes, cientista social e pesquisador do Instituto Bem Cuidar (IBC) da Aldeias Infantis SOS, que foi o responsável pelo estudo, sublinhou a necessidade de escutar os cuidadores, especialmente mães, pais, avós, e as famílias em situação de maior vulnerabilidade social. Ele lembrou que a Constituição Federal prevê a proteção especial do Estado à família, buscando que as famílias, com apoio estatal e social, possam prover condições para o desenvolvimento harmonioso de crianças e adolescentes. Moraes defendeu um apoio mais intensivo do sistema de assistência social e de organizações civis com expertise no trabalho familiar para evitar a ruptura de vínculos.
Continuidade da Pesquisa e Cenário Nacional
Este estudo é uma continuação do relatório “Vozes (In)escutadas e Rompimento de Vínculos”, apresentado pela organização em 2023. O relatório anterior revelou que 32 mil crianças e adolescentes viviam em serviços de acolhimento em todo o país, afastadas do convívio familiar. As regiões Sudeste e Sul concentravam oito em cada dez dessas crianças e adolescentes, sendo a negligência e a violência física ou psicológica os principais fatores que as levaram para os serviços de acolhimento.