As partículas são tão minúsculas que é impossível enxergá-las a olho nu, mas podem ser detectadas por meio de instrumentos sofisticados instalados a 325 metros de altura, na torre do Observatório ATTO, em plena floresta tropical brasileira.
Estudos realizados pelo Observatório da Torre Alta Amazônia (ATTO), localizado a cerca de 150 quilômetros da capital Manaus, no Amazonas, trouxeram dados impressionantes sobre uma nuvem de poeira que está, neste momento, cruzando o Oceano Atlântico em direção ao Brasil. No entanto, segundo os estudiosos, o destino desse material que se desloca do Deserto do Saara é a floresta amazônica. Os estudos revelam ainda que a nuvem de poeira não irá atingir somente a porção norte da América do Sul, mas também pontos das Américas Central e do Norte.
Eles esclarecem que, apesar do anúncio, trata-se de um evento comum que acontece anualmente. Somente este ano, de acordo com o Observatório, o fenômeno já ocorreu em janeiro, fevereiro e março. As partículas são tão minúsculas que é impossível enxergá-las a olho nu, mas podem ser detectadas por meio de instrumentos sofisticados instalados a 325 metros de altura na torre do Observatório, em plena floresta tropical brasileira.
Meteorologistas do Instituto de Meteorologia do Sul (MetSul) abordam os impactos desse fenômeno, que acontece a milhares de quilômetros do solo brasileiro, mas que, fundamentalmente, funciona como uma “conexão entre o maior deserto quente do mundo, na África, e a maior floresta tropical do planeta. É um exemplo poderoso de como os sistemas climáticos estão interligados globalmente”.
Como explicar a chegada dessa matéria ao Brasil?
A explicação, segundo Rafael Valiati, pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), que desenvolve estudos a respeito do fenômeno no ATTO, acontece por conta da “elevação de poeira durante tempestades de vento no Saara, que suspende partículas até altitudes entre 2 km e 5 km, onde são então transportadas pela circulação atmosférica”, disse ele.
Ainda segundo o pesquisador, a chegada da poeira do Saara a esta região do globo pode durar entre 7 e 14 dias, atingindo uma distância de até 5.000 km. No entanto, o período dependerá das condições meteorológicas. Em entrevista ao MetSul, Valiati disse que as partículas de poeira do Saara chegam à América do Sul sempre a partir do primeiro semestre do ano, sendo favorecidas pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), um cinturão de nuvens e ventos que circunda a Terra próximo ao Equador. O estudioso também destaca que a configuração atmosférica determina se as partículas atingirão a Amazônia, o Caribe ou a América do Norte.
O que é o ATTO?
O Observatório da Torre Alta na Amazônia (ATTO) é um projeto conjunto Brasil-Alemanha que teve início em 2008 e está centrado em um local de pesquisa na floresta amazônica. Com o ATTO, o principal objetivo é aprofundar a compreensão sobre a floresta amazônica e sua interação com o solo abaixo e a atmosfera acima.
Os estudiosos do Observatório ainda investigam os efeitos da poeira do Saara sobre a Amazônia, mas confirmam que “há consenso de que o potássio e o fósforo presentes no material mineral contribuem para a fertilidade do solo amazônico”, finalizam.