A página do Ministério da Saúde (MS) é objetiva no que se refere à vacinação dos brasileiros. Mesmo que o usuário não tenha em mãos o cartão físico em que constam os imunizantes, a vacinação nos postos e unidades de saúde é uma prioridade essencial para todo cidadão brasileiro. Além disso, o MS recomenda que, nesses casos em que não houver o comprovante, seja exigido apenas o Certificado Nacional de Vacinação, conhecido como Cartão Nacional de Saúde (CNS), ou o número do CPF. Mas, ao que tudo indica, a Unidade de Saúde da Família Nova Floresta (USF-NF), localizada na Rua João Paulo I, entre a Rua Campus Sales, no bairro Conceição, zona Sul de Porto Velho (Rondônia), tem ignorado o que prescreve o órgão nacional.
Tarde de segunda-feira (9),16h. O usuário, que pediu anonimato a reportagem, foi até a unidade por volta deste horário. A intenção, segundo ele, seria tomar duas doses de imunizantes; uma delas contra o vírus influenza, recomendado, inclusive, naquele dia pela Coordenação de Imunização da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) como objeto de aderir à campanha nacional. Além do imunizante da hepatite B. No horário de atendimento, o usuário relata que a sala de vacinação estava fechada. As atendentes tinham deixado o posto de trabalho para um lanche; enquanto isso, nas cadeiras, as pessoas aguardavam, inclusive idosos. “Cheguei a USF, passei pela triagem, ainda por cima, por duas atendentes apáticas. Ainda assim, sorri e agradeci, seguindo para o local. Alguns minutos se passaram e nada do atendimento acontecer; até suspeitei que alguém mais estivesse dentro do ambulatório. Ledo engano, a porta fechada indicava que não havia ninguém dentro e que as atendentes tinha saído para um lanche. Coisas misteriosas que acontecem no serviço público”, ironiza.
Ao ter o nome anunciado no ambulatório, o usuário foi recebido com um sonoro “não” por uma vacinadora sentada em frente a um computador de mesa. Segundo ela, o rapaz, de 44 anos, não poderia ser vacinado “porque não tinha em mãos o que ela chamou de (comprovante de vacinação físico) que constasse vacinas anteriores”. Questionada, o usuário informou que só havia tomado uma única dose da vacina contra influenza em 2021, mas que não tinha o comprovante de papel naquele instante.
Ainda que com o celular em mãos, mostrando à servidora o “número do CNS”, a vacinadora mais uma vez insistiu em negar a vacina. Questionada novamente se tinha como acessar a caderneta de vacinação digital a que todo usuário do Sistema Único de Saúde (SUS) tem acesso, o homem foi informado pela atendente de que, ainda assim, não poderia; desta vez, o empecilho, segundo a funcionária, passou a ser a internet oscilante. Quanto ao imunizante contra a hepatite B, ao usuário também foi negado; duas servidoras que estavam na sala de vacinação alegaram que o “imunizante só seria aplicado mediante recomendação médica”. Após insistência do usuário, uma das funcionárias, em pé e que aplicaria a vacina, disse: “Pode aplicar a vacina contra a gripe, mas a de hepatite B você só poderá receber com comprovante médico. Caso não tenha o exame que comprove a necessidade da vacina,” relata.
O Ministério da Saúde, é taxativo ao afirmar que a vacina que protege contra o vírus da hepatite B não necessita de recomendação médica para ser administrada, sendo parte do calendário de vacinação recomendado para todos, incluindo recém-nascidos. A vacina está disponível em postos de saúde e pode ser tomada por pessoas de qualquer idade. Ao usuário do Sistema Único de Saúde, que reservou um dia para aplicação da vacina na Unidade de Saúde Nova Floresta, a aplicação ficou para uma próxima vez, tendo em vista que o direito prescrito pelo Ministério da Saúde lhe foi negado. “Fiquei muito chateado e constrangido ao ter que assistir àquela cena, onde, pelo que entendi, as servidoras estavam fazendo pouco caso da minha situação. Fiz questão de denunciar para que o dirigente da Semusa busque fiscalizar, de surpresa, as unidades de saúde de Porto Velho. Ali não se tratou de um caso isolado, mas de uma situação provocada por pessoas que, de alguma forma, prejudicam o funcionamento do trabalho das outras e, consequentemente, o Sistema Único de Saúde. Além disso, percebi que falta capacitação e mais empatia naquele ambiente. Muitas vezes o problema não é o local, mas quem, infelizmente, o integra. — Lamenta.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, que, por meio de nota, disse “que o paciente havia informado que recebeu anteriormente a (vacina contra Hepatite B), porém, segundo orientação médica, “não está imune”, sendo necessária a repetição do esquema vacinal”. A nota segue: “nesses casos, conforme protocolo, é obrigatória a realização de exame para verificação da titulação de anticorpos (anti-HBs), além da apresentação de prescrição médica para um novo esquema vacinal contra Hepatite B”.
O paciente questiona a alegação da Semusa e afirma que, em nenhum momento, como descreve a reportagem, informou ter recebido qualquer dose da vacina contra hepatite B. Afirma ainda que foi à Unidade de Saúde da Família (USF) justamente para ser vacinado, tendo em vista que o exame realizado indicou a necessidade de seguir o esquema vacinal.
Para a reportagem, o usuário lamenta que em nenhum momento tenha existido empatia das vacinadoras, e muito menos uma resposta condizente da instituição quanto à situação em que se viu envolvido na USF Nova Floresta. “Lamento profundamente o ocorrido. Vou levar o caso à Ouvidoria do Ministério Público Estadual, para que apure o problema também em outras unidades. Sou um cidadão, pago meus impostos e respeito a todos, inclusive os meus direitos, mas e as outras pessoas que ficam apenas com a primeira resposta? Farei isso para que sirva de exemplo e que as pessoas naquele bairro ou região também recorram aos seus direitos nos órgãos de fiscalização”, finaliza.”