Estrutura de madeira em estado crítico. As necessidades fisiológicas são supridas em um banheiro precário, onde uma panela de cozinha serve como reservatório de água para a descarga dos dejetos humanos. Sem os serviços básicos, professores e alunos dividem o tempo das aulas com os afazeres domésticos e de limpeza do colégio. De um lado, a professora deixa a sala de aula para assumir o papel, desta vez, de merendeira. Em outra escola, o professor sai da sala de aula para encarnar o zelador. Essas foram algumas das cenas mostradas na reportagem do programa “Fantástico”, da TV Globo, na noite de domingo (8), em todo o país.
O vexame em rede nacional vem de uma escola municipal do estado do Acre, cujo governador é Gladson Cameli, do Progressistas. Jovens da comunidade Limoeiro, no município de Bujari, um dos 22 que compõem o estado acreano, estudam em uma escola que já foi curral de gado. Parece até ironia: a escola fica apenas 22 quilômetros da capital, Rio Branco. Pés na terra e de costa para o ar livre, adolescentes enfrentam o chão batido de uma estrada empoeirada e as interferências do rigoroso inverno amazônico para estudar. “Não tem parede. Para completar, não tem assoalho. É no chão. Se chove, molha”, enfatiza o estudante Thiago de Andrade.
A única professora da classe “curral” se reveza entre alunos de outras séries. “A Caiane que aprende a lição e corrige o caderno, é também a que limpa a aluna que limpa a cozinha. Terça-feira foi o dia dela lavar a panela. A cada dois dias, os alunos se revezam para ajudar a professora. O recreio é isso aqui”, narra a estudante ao repórter Alexandre Hisayasu da Rede Amazônica.
No Brasil, que apenas em 2025, segundo o Ministério da Educação (MEC), investiu um total de R$ 178,42 bilhões na educação, atingindo 1% a mais que em 2024, a realidade do Acre pode ser explicada pela falta, talvez, de (compromisso e de gestão do município de Bujari e do próprio governo estadual) que, ao que tudo indica, tem feito vista grossa para resolver um problema com dinheiro em caixa.
Ainda segundo o MEC, em 2025, o governo federal repassou ao Acre R$ 284,5 milhões para investimento na educação pública. Segundo dados da Agência de Notícias do Acre, o governo estadual destinou R$ 196 milhões no mesmo ano à educação. Diante do drama dos estudantes da comunidade Limoeiro, em Bujari, o próprio corpo docente se uniu aos estudantes para denunciar a precariedade da educação que vem sendo ministrada nas escolas públicas. “Quem trabalha na zona rural é tudo: é professor, servente, merendeiro. É tudo”, lamentou o professor Wellington Carmo, que, no momento em que a reportagem chegou à escola fixa da comunidade Limoeiro, estava roçando o que seria o pátio.
A matéria explica que a rede educacional nos setores rurais do Acre funciona em parceria entre o governo estadual e os municípios. Na referida reportagem, a secretária municipal de Educação, Rocilda Gomes, esposa do prefeito de Bujari, disse que foi contra a instalação da escola no curral, mas foi voto vencido pelos pais dos alunos. Na outra parte desse drama educacional capaz de deixar o educador, José Carlos Libâneo decepcionado, o secretário estadual de Educação falou dos custos da “educação” na zona rural. Pontou a escola de madeira que vem sendo construída na mesma área. Também destacou que as aulas na escola “curral” serão mantidas.