O país padece pela falta de qualidade ética e moral de seus políticos. Os senhores parlamentares, durante as eleições, ao pedirem votos da sociedade, se apresentam como cândidos cordeirinhos, prometendo representar a população no Parlamento em suas reivindicações de caráter social. Mas, após serem eleitos, mostram a verdadeira face pérfida de cada político e tratam no Legislativo apenas de seus interesses.
Uma rápida digressão. O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), muito jovem, já é presidente da Câmara Federal, abandonando, lamentavelmente, a sua profissão de médico, tão carente, mormente nos rincões do país.
Custa-me a acreditar que um médico, de profissão muito disputada nos vestibulares, renuncie à sua carreira para exercer mandato político. Ou o deputado não se considerava um vocacionado para a atividade médica?
Pois bem, muitos eleitores reclamam da necessidade de renovação do Congresso com a eleição de políticos novos, com cabeças mais arejadas e sem os vícios da velha guarda política. No entanto, trata-se de um ledo equívoco. Vejam, por exemplo, o caso do deputado Hugo Motta.
Ao transigir com a proposta para aumentar o número de cadeiras na Câmara Federal – em desacordo com a ordem do STF de continuar tendo 513 deputados – o parlamentar demonstra ter aprendido cedo o jeitinho maroto dos antigos políticos, que encontravam saídas mirabolantes para ver coroados os seus propósitos não republicanos.
Não interessa à sociedade aumentar a despesa pública para custear mais parlamentares. Ao contrário, a sociedade clama pela redução da quantidade de parlamentares, bastando fazer uma consulta oficial à população.
O deputado Hugo Motta e seus pares, favoráveis ao aumento de cadeiras, deveriam respeitar os princípios constitucionais. A Constituição de 1988, ao estabelecer que o número de deputados federais deve ser proporcional à população de cada estado, calculado com base nos dados do Censo Demográfico do IBGE, atualizado a cada dez anos, não deixou expresso ou subentendido que o número de deputados (513) pudesse ser aumentado.
Num país de milhões de pessoas passando fome, desempregadas e sem nada, chega a ser um escárnio que parlamentares, descompromissados com os problemas sociais brasileiros, resolvam aprovar o aumento da quantidade de deputados federais, o que significará, consequentemente, inflação das despesas públicas, das benesses políticas, do empreguismo sem concurso nos gabinetes dos novos deputados etc.
A representatividade política não se dá pela quantidade de parlamentares, mas sim pela qualidade dos representantes. Um Parlamento enxuto, com menos políticos, é mais eficiente.
Somente parlamentares irresponsáveis com os gastos públicos podem aprovar tal medida.
Espera-se que o Senado Federal barre essa excrescência.
Júlio César Cardoso
Servidor federal aposentado
Balneário Camboriú-SC