A pandemia do novo coronavírus não trouxe apenas desafios sanitários e econômicos para o mundo, mas desencadeou uma infodemia acompanhada de um processo estruturado de desinformação. É neste cenário turbulento que os doutores Allysson Martins e Juliana Teixeira mergulham para apresentar o livro “Não era só uma gripezinha, mas desinformação“, uma análise contundente sobre como a desordem informacional impactou a sociedade e evidenciou o trabalho das agências digitais de checagem de fatos durante a pandemia da covid-19.
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A publicação possui financiamento da FAPERO – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Rondônia e pode ser acessada gratuitamente no site da editora Insular. O desenvolvimento da pesquisa contou ainda com recursos do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e é um reflexo do seu próprio período, quando as relações virtuais, de amizade e trabalho, foram potencializadas e até oficializadas. Essa realidade permitiu que os autores desenvolvessem o livro mesmo com mais de 3 mil quilômetros de distância, entre Porto Velho e Teresina.
Resultado de uma pesquisa iniciada ainda em 2020, quando o isolamento social impôs novos modos de sociabilidade e aprofundou o papel das tecnologias digitais na vida cotidiana, a obra traz uma reflexão densa sobre a perda de credibilidade do jornalismo e o fortalecimento das agências checadoras de (des)informação em meio à crise da covid-19. Dividido em cinco capítulos, o livro traça o panorama da desinformação e das principais estratégias de combate contra a enxurrada de conteúdos falsos sobre a pandemia a partir de duas das mais relevantes iniciativas brasileiras, a Fato ou Fake, do G1, e a agência Lupa.

“Com instituições como o jornalismo, a ciência e o Estado questionados, as redes sociais se transformaram em um terreno fértil para a circulação de informações falsas, muitas delas com potencial de afetar diretamente a saúde pública e as decisões individuais até mesmo diante de uma crise sanitária mundial”, contextualiza Allysson Martins, professor do mestrado em Comunicação e coordenador do MíDI – Laboratório de Mídias Digitais e Internet na Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
Esse descrédito é evidenciado até em relatórios internacionais, como o Digital News Report, que mostram que apenas 43% dos brasileiros confiam nas notícias. “Os produtores e propagadores de fake news, de modo quase paradoxal, se apropriam dos elementos da estética jornalística para conferir legitimidade a conteúdos falsos, ao mesmo tempo em que atacam a credibilidade da imprensa”, afirma Juliana Teixeira, professora das universidades federais do Piauí (UFPI) e do Ceará (UFC) e coordenadora do JOII – Grupo de Pesquisa em Jornalismo, Inovação e Igualdade.
O processo de desinformação durante a pandemia da covid-19 é trabalhado no livro como algo mais abrangente que apenas as famosas fake news. Segundo os pesquisadores, a desordem informacional se refere não somente às mentiras, mas ainda às informações publicadas com erros involuntários e aos enviesamentos propositais.
“A desinformação é um complexo movimento que nos confunde e nos engana de pelo menos três formas. A primeira trata das fake news em si, que são aquelas informações falsas. O segundo aspecto são os erros e enganos, que acometem até veículos jornalísticos, que precisam depois se retificar. Por fim, temos as descontextualizações, que são informações verdadeiras, mas enviesadas e recortadas, nos levando a conclusões erradas”, afirma Martins.
O livro detalha o surgimento e desenvolvimento não apenas da desinformação, mas também de uma das suas principais formas de combate: as agências de checagens de fato no Brasil e no mundo. Essas iniciativas se tornaram um dos principais antídotos contra o avanço da desordem informacional, aliadas às legislações vigentes, às empresas de tecnologia e à alfabetização midiática, além da própria publicação de conteúdos verdadeiros, como os jornalísticos.
Mais do que um panorama das fake news na pandemia, a obra se apresenta como uma reflexão crítica sobre o jornalismo contemporâneo e sua capacidade de se reinventar em um ambiente digital hostil, onde a verdade é frequentemente substituída por narrativas que alimentam crenças e ideologias. As agências de checagem de fatos podem ser vistas como uma reação do próprio campo jornalístico diante da urgência de preservar sua função social.
O livro recebe o prefácio da doutora Ana Regina Rêgo, professora do PPGCOM/UFPI e fundadora da RNCD – Rede Nacional de Combate à Desinformação, da qual os autores fazem parte. “O livro se coloca como um texto importante, não somente por procurar revelar práticas de um mercado desinformativo e as estratégias de fact-checking em seu enfrentamento, mas por proporcionar ao leitor uma visão crítica sobre o campo jornalístico e suas práticas atuais que procuram se agregar aos negócios e à identidade do campo”, escreve Rêgo.
Fruto de uma parceria acadêmica entre Allysson Martins e Juliana Teixeira, “Não era só uma gripezinha, mas desinformação” é leitura obrigatória para jornalistas, pesquisadores, estudantes e todos que buscam entender os bastidores da luta contra a desinformação e os desafios do jornalismo em um mundo cada vez mais polarizado e conectado, sobretudo durante uma crise sanitária mundial, como a pandemia da covid-19.
SOBRE OS AUTORES
Allysson Viana Martins é coordenador do MíDI – Laboratório de Mídias Digitais e Internet e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) na Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Pós-Doutor em Comunicação pela UFC e Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA, com estágio doutoral no Laboratoire Communication et Politique du Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). É autor dos livros “Jornalismo e guerras de memórias nos 50 anos do golpe de 1964” e “Jornalismo digital entre redes de memórias na efeméride do 11/9” e do e-books “Crossmídia e transmídia no jornalismo” e “Afrodite no ciberespaço”, este uma coorganização. E-mail: allyssonviana@unir.br.
Juliana Fernandes Teixeira é professora do Departamento de Comunicação Social na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) na Universidade Federal do Ceará (UFC). É líder do grupo de pesquisa Jornalismo, Inovação e Igualdade (JOII), Pós-Doutora em Comunicação pela UFPI e Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA e em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior. É autora dos livros “Webjornalismo audiovisual universitário no Brasil” e “Jornalismo audiovisual com e para dispositivos móveis”, além de organizadora de quase uma dezena de livros. E-mail: teixeira.juliana.rj@gmail.com.