Em abril, o mundo brilha azul. O Cristo Redentor, a Estátua da Liberdade, a Torre Eiffel e outros monumentos grandiosos reluzem na cor da conscientização. O azul ilumina fachadas, mas nem sempre ilumina consciências.
A cor também ganha as ruas, com caminhadas e discursos empolgantes, ecoados em auditórios e espaços públicos. No entanto, uma pergunta persiste: todas as vozes são realmente ouvidas?
Entre luzes azuis e discursos bem-intencionados, muitas palavras são ditas sobre autistas, mas quantas são ditas por autistas?
“Nada sobre nós, sem nós” é um lema poderoso, que reforça a importância da participação das pessoas com deficiência nos debates e decisões que afetam suas vidas. Mas, na prática, os autistas ainda são espectadores, quando deveriam ser protagonistas.
As mesas são formadas por autoridades que ocupam o espaço daqueles que podem falar com mais propriedade, porque vivem o autismo na essência.
Falam pelas crianças, impondo silêncio aos autistas adultos. Mas esse silêncio grita, porque as crianças cresceram e podem falar de suas histórias, dores e conquistas.
Eles não desaparecem com a infância. Continuam aqui, sentindo na pele a exclusão, até mesmo em comunidades inclusivas, e pedem espaço para existir e falar.
O azul da conscientização precisa ser mais do que uma cor. Precisa ser um espaço de escuta, um palco para vozes abafadas, um convite à inclusão verdadeira.
O Abril Azul será, de fato, azul quando os autistas puderem pintar suas histórias com suas próprias palavras. Porque a conscientização não é sobre falar sobre eles, mas sobre abrir caminho para que falem por si mesmos.
Que as luzes se acendam, mas que junto delas venha o respeito à voz autista. Que o brilho do Abril Azul não seja apenas um reflexo passageiro, mas a promessa de um mundo onde ninguém mais precise lutar para ser ouvido.
Neste mês de abril, dê voz aos autistas!
Lucas Tatuy é jornalista, escritor, autista e pai atípico.