No Brasil, a educação financeira ainda é negligenciada, e isso tem consequências graves para a população. Um estudo recente revelou que apenas 3% dos brasileiros organizam suas finanças de maneira estruturada. Isso significa que a grande maioria enfrenta dificuldades para planejar gastos, poupar e investir, o que contribui para o crescente endividamento no país.
A falta de conhecimento sobre gestão financeira, aliada ao comportamento de consumo descontrolado, são fatores que agravam esse cenário. Muitas pessoas, mesmo com bons salários, vivem endividadas, enquanto outras, com rendimentos mais modestos, conseguem manter uma vida financeira saudável. Isso ocorre porque a relação com o dinheiro vai além da renda: ela está diretamente ligada à cognição, ao círculo social e à cultura do consumo.
Um dos maiores desafios financeiros está relacionado ao ambiente em que estamos inseridos. Assim como hábitos saudáveis podem ser adquiridos por convivência, hábitos financeiros ruins também podem ser assimilados. Se uma pessoa está cercada por indivíduos que vivem no limite do crédito, fazem compras impulsivas ou não se preocupam em poupar, é muito provável que ela adote comportamentos semelhantes.
O desejo de status e a necessidade de aceitação social também são gatilhos para o consumo excessivo. Muitas vezes, as pessoas gastam mais do que podem para manter um padrão de vida que não condiz com sua realidade financeira. Isso se reflete na compra de bens supérfluos, viagens fora do orçamento e um estilo de vida financiado por dívidas.
Outro erro comum é acreditar que a independência financeira pode ser conquistada pela sorte. Muitos brasileiros apostam em jogos de azar, loterias e investimentos arriscados na esperança de um “golpe de sorte” que mudará suas vidas. No entanto, a probabilidade de ganhar prêmios milionários é mínima, e essa mentalidade acaba desviando a atenção daquilo que realmente pode trazer estabilidade: a educação financeira e o planejamento estratégico.
A busca por soluções rápidas e fáceis reflete uma cultura que precisa ser transformada. O caminho para a segurança financeira não está em bilhetes de loteria, mas na adoção de hábitos saudáveis, como registrar receitas e despesas, estabelecer metas de poupança e investir de forma consciente.
A falta de controle financeiro não afeta apenas o bolso, mas também a saúde mental. O endividamento excessivo pode gerar ansiedade, depressão e insônia, além de prejudicar relacionamentos e a qualidade de vida. A constante preocupação com contas a pagar cria um ciclo de estresse que afeta diretamente o bem-estar das pessoas.
Para evitar esse sofrimento, é essencial abandonar a ilusão de que a sorte resolverá os problemas financeiros e investir em educação financeira. Pequenos hábitos, como o uso de aplicativos de controle de gastos, a criação de um orçamento mensal e a reserva de uma parte da renda para emergências, podem transformar a realidade financeira de qualquer pessoa.
O estudo que aponta que apenas 3% dos brasileiros organizam suas finanças revela um problema estrutural que precisa ser combatido. A combinação de círculo social, cultura do consumo e crença na sorte impede milhões de pessoas de alcançarem estabilidade financeira.
No entanto, há esperança. Com a crescente oferta de conteúdos sobre finanças pessoais na internet e o avanço da digitalização bancária, mais pessoas podem ter acesso ao conhecimento necessário para mudar sua relação com o dinheiro. A verdadeira independência financeira não vem de um golpe de sorte, mas da disciplina, do planejamento e da educação.
Se quisermos um futuro mais próspero para os brasileiros, é fundamental incentivar a conscientização sobre o valor do dinheiro e a importância da organização financeira. Dessa forma, poderemos aliviar o estresse e o endividamento de milhões de pessoas e construir uma sociedade mais equilibrada e preparada para enfrentar desafios econômicos.
Samuel Costa é advogado, professor, jornalista e especialista em Ciência Política.