Os tradicionais e originários modos de vida da florestania amazônica estão cada vez mais caindo no ardiloso e fatídico estado de invisibilidade sócio – político – cultural do território brasileiro. Nessa jactante bazófia do status quo vigente que visivelmente agride os excluídos da mátria florestal é uma horrenda clarividência do espetáculo frio e dominante, oriundo das garras da indômita globalização hegemônica em ascensão.
Segundo o escritor português Boaventura de Souza Santos, a globalização hegemônica é uma nova fase do capitalismo global, constituída pela primazia do princípio do mercado, liberalização do comércio, privatização da economia, desregulação do capital financeiro, precariedade das relações de trabalho, degradação da proteção social, exploração irresponsável dos recursos naturais, especulação com produtos alimentares e mercantilização global da vida social e política.
É justamente essa exploração irresponsável dos recursos naturais e a mercantilização global da vida social e política, aqui apontadas por Boaventura Santos, que continuam asfixiando e deteriorando os poucos filhos que restaram da mãe terra. Indígenas, ribeirinhos e quilombolas, por exemplo, continuam sendo de forma despótica e ardil, excluídos e marginalizados, diante de um domínio materialista que oprime a vida e o ser ontologicamente hermenêutico. Para o filósofo alemão Martin Heidegger “na hermenêutica configura-se ao ser aí como uma possibilidade de vir a compreender e de ser essa compreensão”.
Heidegger nos diz que isso possibilita interpretar ontologicamente o significado de ser um ser dentro do mundo. Para ele, ser no mundo não quer dizer aparecer entre outras coisas, mas significa, ocupar-se no circundante mundo, vir ao seu encontro, e demorar-se nele. Enquanto isso, o geógrafo Werther Holzer, também ressalta, que o mundo para uma ciência fenomenológica está na essência do significado de todas as coisas, e ele se remete diretamente ao ser, enquanto o ser também se dirige as coisas e se interroga sobre o seu sentido.
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Os povos originários e tradicionais da Amazônia brasileira convivem entrelaçados às coisas da mãe natureza. Ser e mundo são fenômenos indissociáveis de um lugar hermeneuticamente ontológico e transcendentalmente celebrado pela exuberância cósmica de suas encantarias florestais. Que a poética estetizante da vida continue generosa e sem mácula, e que a virtuosidade dos povos da floresta jamais se renda às debilidades estruturais da ilicitude de grupos parasitários.