Lígia Saramago In “Como ponta de lança” – O pensamento do lugar em Heidegger – nos diz que uma das primeiras associações que podemos então estabelecer no contexto do pensamento heideggeriano sobre o lugar é sua indissolúvel vinculação com a ideia de significatividade, que pode ser também compreendida como abertura de sentido das coisas.
Desta forma a mesma autora nos diz que, o que imediatamente se mostra como fundamental nesta passagem é a importância decisiva atribuída à relação entre ser e estar em seu lugar, relação esta de um autêntico e essencial pertencimento ao lugar.
Nessa dramatização de identidades, podemos citar como exemplo, a chegada dos trabalhadores nordestinos nos seringais e a própria destruição dos seringais nativos da Amazônia em virtude do avanço da pecuarização durante as décadas de 1970 e 1980, duas situações de antagonismo que se revelam na construção e destruição do lugar.
Ao traçarmos uma analogia do lugar do seringueiro em detrimento às dimensões política e econômica do Estado Novo, poderíamos dizer que o governo Vargas se utilizou de sua política de estado para recrutar trabalhadores nordestinos e posteriormente, através da produção em larga escala da borracha natural, atender às necessidades da economia internacional.
O pertencimento de lugar da territorialidade seringueira está intimamente incorporado à vivacidade das águas e da floresta. Um lugar de apego, e de onde se arranca o sustento da família.
Nesse sentido, concordamos com Werther Holzer In Mundo e lugar – ensaio de geografia fenomenológica – ao dizer que lugar é o aporte fenomenológico apropriado pelos geógrafos humanistas, ou seja, segundo ele, o lugar que trata da experiência intersubjetiva de espaço mundo em seus fundamentos, quais sejam, distância e direções a serem vencidas, fisicamente ou na imaginação, sobre um determinado suporte que podemos chamar de “espaço geográfico”, constituindo-se a partir das vivências cotidianas como um centro de significados, como um intervalo, onde experimentamos intensamente o que pode ser denominado de geograficidade, como proposta por Dardel.
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E desta forma nos alerta Holzer, ao dizer que a geograficidade trata do conteúdo existencial do homem com o espaço terrestre e, na medida em que o homem se apropria desse espaço, ele se torna mundo, a partir da fixação das distâncias e das direções, onde os marcos referenciais são o corpo e a matéria onde ele se apoia, um espaço primitivo que, uma vez apropriado pelo homem, se torna lugar.