A aversão afrontosa aos povos da floresta provoca um alijamento execrado aos valores ontológicos do ser. Esses valores são asfixiados por um causticante estado de belicosidade que promove um exacerbado infortúnio de desterritorialização àqueles que sobrevivem da mátria mãe florestal.
Nessa desordem defraudada que espolia e mata os originários e tradicionais berços amazônicos, a banda delinquente da sociedade segue desenfreada rumo aos doentios delitos em desfavor da vida. Essa derrocada humana compartilha o descalabro, arruína o bem viver e semeia o caos. Esse desdém cruel e desmoralizante segue malevolente e triunfante, ceifando a ética e provocando a devassidão arbitrária dos costumes do homem.
Aqueles que são alimentados pela benevolência da dadivosa mata são tratados muitas vezes à revelia da carta magna, enquanto assistem em pranto as suas próprias almas serem desalojadas dos seus valores ancestrais sagrados. A resistência de homens, mulheres e crianças, segue rompendo barreiras na incansável luta contra um etnocídio ameaçador do status quo vigente.
Entre o desmazelo e o despautério da sociedade despótica envolvente, a marcha dos desterrados parece não ter fim, a displicência estatal se fortalece, enquanto os despossuídos esfacelam-se por um pedaço de pão. No patíbulo das execuções as minorias étnico-raciais continuam clamando por justiça, combatendo o fogo e lutando pela vida.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito da Universidade Estadual de Londrina.