Por Renata Camurça
Sinopse:
“Racismo. Abuso. Libertação.
A vida de Marguerite Ann Johnson foi marcada por essas três palavras. A garota negra, criada no sul por sua avó paterna, carregou consigo um enorme fardo que foi aliviado apenas pela literatura e por tudo aquilo que ela pôde lhe trazer: conforto, através das palavras.
Dessa forma, Maya, como era carinhosamente chamada, escreve para exibir sua voz e libertar-se das grades que foram colocadas em sua vida. As lembranças dolorosas e as descobertas de Angelou estão contidas e eternizadas nas páginas desta obra densa e necessária, dando voz aos jovens que um dia foram, assim como ela, fadados a uma vida dura e cheia de preconceitos.
Com uma escrita poética e poderosa, a obra toca, emociona e transforma profundamente o espírito e o pensamento de quem a lê.”
O livro “Eu sei por o pássaro canta na gaiola” é uma autobiografia escrita por Marguerite Ann Johson, conhecida mundialmente como Maya Angelou. Essa obra é primeira de uma série autobiográfica, que além de escritora, era atriz, poetisa, cantora e ativista dos direitos humanos.
Na contracapa do livro encontrei a seguinte advertência: essa obra monumental deve ser lida em doses, não é algo que se lê de uma vez”. E, foi exatamente o que fiz, me entreguei sem pressa a essa leitura, respeitando toda a profundidade emocional das vivências de Maya e absorvendo a história gradualmente.
A obra lembra um caderno de memórias com muitas lembranças dolorosas, onde Maya conta a sua trajetória do período da infância até a fase de adolescente com 16 anos. Ao longo das páginas, a escritora apresenta ao leitor minuciosamente parte da sua vida, anseios, traumas, segredos, intimidade, descobertas e amadurecimento.
O livro cobre alguns acontecimentos que marcaram a vida a existência da escritora.
- Aos três anos, Maya e seu irmão mais velhos, Bailey vão morar com a avó paterna, em uma pequena cidade chamada Stamps, no Arkansas;
- Aos oito anos, devido à crise econômica, Maya e Bailey são levados para Califórnia para viverem com a mãe. Nesse mesmo período, Maya passa por um grande trauma;
- Maya e Bailey retornam para Stamps e para os cuidados da avó. Nessa fase usou o silêncio como escudo de proteção, se entregou à literatura e descobriu o poder das palavras;
- Na adolescência volta a morar com a mãe na Califórnia. Nas férias escolares, na companhia do pai, passa por algumas experiências que a levam fugir do pai e morar um mês na rua;
- Aos 15 anos, Maya já começa a demonstrar seu ativismo, quando começa a lutar contra o racismo e consegue ser a primeira mulher negra a trabalhar como condutora de bonde em São Francisco.
- Aos 16 anos, no final do ensino média, se torna mãe solo.
O que mais me impressionou durante toda a leitura foi como a Maya se enxergava e a percepção que ela tinha da vida ao seu redor. Durante toda a história, Maya demonstra não se sentir bem em sua própria pele, com relatos sobre descontentamentos com seus traços, cabelos, tamanho das mãos e pés e falta de delicadeza.
É impactante a descrição do racismo visto e vivido pelos olhos de uma criança. Por mais que a escravidão já tivesse acabado, ainda existia a segregação racial, exercida de forma cruel e impiedosa.
A autobiografia trata de temas fortes como violência, racismo, relacionamento abusivo, estupro e outros. Maya relata sua verdade sem rodeios, de forma simples, mas com profunda riqueza na escolha das palavras.
“Eu sei por que o pássaro canta na gaiola” é um livro histórico que narra o cotidiano de uma família negra entre as décadas de 1930 e 1940 e por incrível que pareça, a história ainda é atual, onde pessoas precisam combater diariamente para que a violência do racismo nunca mais se repita.
Essa é uma leitura obrigatória para cada pessoa que deseja se tornar um ser humano melhor.