Por Emerson Barbosa
Há pouco mais de um mês, famílias de indígenas da etnia Karipuna foram expulsas das próprias casas. O Rio Jacy-Paraná encheu tanto que acabou inundando praticamente todas as residências na comunidade. A esperança chega agora com a diminuição do volume d’água. As casas que até a semana passada tinham partes imersas, hoje estão visíveis. Até mesmo o quintal que virou um imenso lago já pode ser caminhado sem que alguém precise molhar os pés.
Foto: ANDRÉ KARIPUNA
Ainda assim, segundo o líder indígena, André Karipuna, as famílias continuam impedidas de retornar para os seus lares. “O rio está secando, mas não têm como a pessoa morar dentro das casas. Não tem como retornar elas”, explica ele.
Foto: André K.
A Aldeia Karipuna fica localizada à 200 quilômetros da área urbana de Porto Velho, as margens do Rio Jacy, em Rondônia. No local, moram aproximadamente 62 pessoas. Por conta da cheia, 22 delas foram obrigadas a sair das casas quando a água começou a entrar pela porta.
Foto: ANDRÉ KARIPUNA
"As casas não têm mais segurança por conta dos danos apresentados após cheia. Isso tem impedido que as famílias retornem”, descreve o líder indígena.
Foto: ANDRÉ KARIPUNA
Uma dessas pessoas é a indígena mais velha da aldeia, Katica Karipuna, de 70 anos. Com a enchente, a casa dela foi uma das primeiras a serem tomadas pelas águas. Os indígenas apontam danos estruturais na maioria das residências da aldeia. Temem, inclusive que algumas delas desabem e, por isso, não retornaram até o momento. Irredutíveis, os Karipunas brigam agora por justiça, eles responsabilizam a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio. “A responsabilidade é da empresa. Queremos que eles venham aqui e façam um levantamento dos estragos. Tomem pelo menos uma providência para reconstruir as casas danificadas. A enchente tem a ver com a Santo Antônio. Esta é a segunda vez desde 2014”, alega o cacique.
A Usina de Santo Antônio foi procurada pelo jornalismo do News Rondônia. A empresa declarou que “nenhuma Terra Indígena é diretamente impactada pela implantação da hidrelétrica”. Disse ainda que “a Terra Indígena Karipuna (Aldeia Panorama) fica localizada a cerca de 20 quilômetros do reservatório da HST e, portanto, não há possibilidade de ter sido afetada. Durante o período em questão, a estação de monitoramento no rio Jaci-Paraná, em um ponto entre a Terra Indígena e o distrito de Jaci-Paraná, indica que houve um aumento significativo da vazão, resultante das fortes chuvas. E que o alagamento na região foi causado pela limitação de escoamento do solo em casos de chuvas atípicas, resultando no transbordamento da calha do rio”, esclarece.